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Discurso na gilete

Decepção com governo prova que saúde mental do povo é boa

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Tomaz Silva

Algumas ações valem mais do que mil, dez mil palavras. Determinados gestos talvez valham menos do que uma Cibalena vencida. Quanto a ações e gestos vazios o melhor é ignorá-los. Acho que essa última opção tem sido a primeira alternativa de centenas de milhares de eleitores que, apesar do atraso, recuperaram a memória a tempo de se salvarem de um calvário longo e desafortunado. Além de desmistificar um mito forjado na faca de um esquizofrênico, parece que a tardia decepção mostrou que a saúde mental da maioria do brasileiro ainda é boa e apta para votos mais sérios. Pelo menos perceberem que, muito pior do que serem tratados como boi, é sustentar a vaca.

Entendam a metáfora como bem quiserem, mas a verdade é nua e crua: na vida, algumas pessoas vão do céu ao inferno em quatro anos, isto é, em apenas um mandato presidencial. Em algumas situações, se imaginam uma moqueca de lagostas graúdas, mas tentam o suicídio no quarto escuro quando se descobrem um sarrabulho requentado. Mais uma vez reitero que jamais torci para que o (des) governo chegasse onde chegou. Todavia, é natural que desse no que deu. O que esperar de um ser humano que, usando em vão as palavras de Deus, ainda hoje tenta distorcer a existência divina para se manter em uma cadeira que nunca mereceu?

Voltemos no tempo e tentemos recuperar algo de bom no homem terrivelmente cristão que, obviamente não matou, mas negou – e continua negando – a doença que transformou em números 677,2 cidadãos brasileiros. Saibam quantos se interessarem que é o mesmo mandatário que questiona o desemprego, faz pouco caso da fome e sonha com um novo golpe militar. O grande erro da minoria que continua acreditando no que ele diz ocorreu há cerca de quatro anos e meio, quando foi apresentado a uma gilete, também conhecida por lâmina de barbear.

Copiando um famoso e fracassado caçador de marajás, o moço subiu na gilete para fazer um discurso na certeza de que, em tempo recorde, seria denominado mito. Na mesma proporção, o assanhamento com poder virou descontentamento logo após as frustradas expectativas decorrentes das primeiras ações. A começar pelo que dizia (e diz) como autoridade máxima do país, o sujeito em questão pouco ou nada produziu (ou produz) de positivo para a nação. Há questionamentos inclusive como cidadão. Daí para os panelaços, apitaços e pastelaços foi um pulo.

Agora, mais precisamente no dia 2 de outubro, o mito terá de passar novamente pelo crivo do voto. Será um novo encontro e certamente não haverá acontecimentos fortuitos criados para mudar o rumo da prosa presidencial, tampouco tempestades capazes de amolecer o sofrido coração das massas. Aí é que a falta de ações, os gestos tresloucados e as ameaças desmedidas serão lembradas. Quer queiram ou não, na Pátria Amada Brasil o voto se mantém como a principal arma dos brasileiros. E este terá efeito automático quando pelo menos dois terços do eleitorado acionarem o gatilho da urna eletrônica em direção à democracia e ao Estado de Direito.

Todos sabemos que ocorrerão defecções no seu quintal. Sabemos também que o gado o seguirá até o matadouro. Nada mais justo. Afinal, quem pariu Mateus que o embale. Embora estejam certos de que terão de brigar com Deus e o mundo, está escrito que o mito e seus seguidores mais fanáticos tentarão melar a eleição caso o resultado não seja do agrado. Conforme os números, tudo indica que não há hipótese de alguma coisa diferente da vitória da democracia. Portanto, é votar e esperar o apito final de Alexandre de Moraes, o juiz de campo e principal árbitro da mesa do VAR. Ou seja, tudo convergindo para provar que a urna eletrônica é muito mais confiável do que quem a desqualifica.

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