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O tempo não para

Depois do Only you e da Playboy, chegamos aos senadores reborns

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Entre perplexo, estupefato, decepcionado e deprimitivo, levei pouco mais de dois segundos e meio para descobrir que os bebês reborns são fruto de um enrosco virtual, unilateral e sem graça dos jovens e velhos de hoje com uma mulher inflável. Não é o meu caso e, com toda certeza, dos cupanheiros atemporais de Notibras. Como eles, eu prefiro as de carne, osso e muita sensibilidade na pele, nas mãos e na ponta do nariz. Aliás, como macho alfa sem virada para trás, apesar do tempo e da lei da gravidade, minha preferência sempre foi por bater virilha in loco, isto é, tête-à-tête com a dona coisinha, a popular samburiguinha.

Como na terceira idade já não temos certeza de mais nada, pelo menos sei que vou continuar fazendo tudo como dantes. Só que mais devagar. O tempo é um escultor de ruínas. Por conta dele, pode ser que, às vezes, precise contar até 100. E daí? Conto, desde que consiga terminar o serviço acertado no mesmo dia em que o iniciei. Se precisar, meu conto passa de mil, dois mil. O que não me permito é atingir a baba do quiabo via tecnologia. Gosto de ver e sentir a abertura do compasso sem a necessidade de apertar o enter no teclado ou de aumentar o brilho da tela.

Enfim, gosto do beijinho, beijinho e nhenco nhenco, mas sem nhe nhe nhem. Sei que o tempo é um escultor de ruínas, mas, como diz o ditado, sou brasileiro e não desisto nunca. Por falar em ruínas, o mundo é cheio delas. Não conheço todas, mas sei que a principal do Peru é a impotência. Sou de uma época em que um homem documentado era somente um cidadão cheio de documentos. Nesse período, o papagaio só dava a pata porque tinha medo de pegar Aids. Tudo mudou. Acabou aquela história da dedada do urologista. Hoje é tudo na base do laser. O problema é o sorriso maroto do lagarto vestido de jaleco branco.

Lembrando que o sorriso é uma roupa que veste qualquer pessoa, continuo me consultando anualmente com o mesmo deflorador de toba, mas não permito, sob qualquer hipótese, que ele apague a luz do consultório. Se ameaçar, visto a roupa, faço biquinho e fico de mal. Foi-se o tempo em que os especialistas na metodologia metafísica da rabinologia respeitavam os cabelos brancos e as rugas abaixo do baixo ventre masculino. Somente com permissão, eles apagavam a luz e punham o compacto simples do The Platters na vitrola. O escolhido era o Lado A, o da inesquecível canção Only you.

Caso houvesse algum chiado logo nos primeiros acordes instrumentais da música, o paciente era rapidamente reconduzido à sala principal e ficava o dito pelo não dito. A voz do cantor era a senha da continuidade. A liberação geral ficava condicionada ao segundo verso da canção. Era o golpe da morte. Melhor dizendo, era a certeza de que o pau que nasce torto ficou reto no tomate cru. Os que se livravam do dedômetro estavam aptos a ingressar na carreira dos mestres da libidinagem consentida, desde que com fins exclusivamente de procriação. A sem consentimento ficava restrita aos celibatários e aos líderes de grupos de escoteiros.

Como não dispúnhamos de redes sociais e mecanismos afins para saciar nossa sede física, a solução eram as revistas masculinas Playboy, Ele & Ela e Status ou as senhoras domesticadas pelas madames das afamadas casas de facilidades, também conhecidas por rainhas da osteoporose. Tudo no maior respeito. É claro que o tempo não pára e nem volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo e o arrependimento de ter perdido tempo. Uma pena que não se faz mais antigamente como antes. Se ainda existisse antigamente, duvido que o povo de Rondônia e do Amazonas elegeria beócios misóginos como os senadores Marcos Valério, Plínio Valério e Omar Aziz. Aliás, quem garante que eles não são políticos reborns ou filhos de mulheres infláveis?

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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