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Mediocridade

Deputado obscuro, presidente impichado

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José Escarlate

Collor derrotou Lula depois de uma jogada de edição feita após o debate entre os dois. Apesar de estar na assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, fiz campanha para o Fernando Collor, inclusive dentro da minha própria casa. Acreditava nele, na sua mocidade, na sua disposição em enfrentar a corrupção.

Só não aceitava a maneira como ele tratava seu antecessor. Afinal, adversário político não é inimigo. Eu conhecia esse Fernando Collor de Mello desde o tempo em que ele era um ilustre desconhecido. Um obscuro deputado federal pelo PDS das Alagoas, eleito em 1982 com 55.124 votos. Um dia, um grande amigo – Jair Cardoso – me pediu uma colher de chá para o Pedrinho Collor, que comandava a Gazeta de Alagoas. Nesse tempo, 1984, ainda no governo João Figueiredo, eu comandava o jornalismo da Empresa Brasileira de Notícias.

Passei a mandar as fotos do dia para o jornal. Depois, o próprio Collor pediu que o recebesse. Queria uma inserção na Voz do Brasil. Aleguei não ser possível, já que a Voz tinha uma parte dedicada ao Executivo e outras duas, ao Legislativo e Judiciário. Ele alegou que queria elogiar de viva voz ações do governo e o projeto da Adutora do Sertão, de um grande amigo meu, o deputado Albérico Cordeiro.

Vi que não haveria problema e ele foi ao estúdio da Voz, na EBN, e gravou uma participação sobre os benefícios que a adutora levaria aos estados da região. O governo federal deu o sinal verde para a obra. À saída, ele agradeceu muito, entregou-me o seu cartão – que guardo até hoje -, dizendo: “Se precisar alguma coisa, me procure”.

Na eleição fiz uma festa enorme na minha casa do Lago Sul. A árvore de Natal lá, era só Collor, coalhada de material de propaganda, com adesivos do candidato. Um grupo chamado “Amigos do Collor”, me abastecia. Diz o ditado que dia de muito é véspera de pouco. Após a eleição pedi ao Secretário de Imprensa, meu amigo Carlos Henrique de Almeida Santos para ser liberado e retornar ao meu órgão de origem, que passara a ser a Radiobrás.

Fui fazer um curso intensivo de processamento de dados, já que a atmosfera era de que quem não estivesse bem preparado para novos tempos poderia dançar. Me arrependi. Acreditei nele como a maioria dos brasileiros. Não tinha bola de cristal para saber que seria uma de suas milhares de vítimas e, muito menos, que sofreria um impeachment.

PV

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