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Fundo Eleitoral

Deputados adoçam o povo com o IR, mas levam 4,9 bi 

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Wenceslau Araújo - Foto Lula Marques

Profissionais na arte de se posicionar contra a população, os deputados finalmente decidiram se penitenciar e resolveram melar a chupeta dos trabalhadores com o melzinho da demagogia. É claro que a isenção do pagamento de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil beneficiará milhões de brasileiros, entre eles muitos dos familiares dos próprios parlamentares. Entretanto, tenhamos calma, porque, em se tratando do Congresso Nacional, nada que venha de lá pode ser visto com uma benção de Deus.

E eu, aqui do meu catre na casa de Madame Butterfly, mais uma vez tenho de fugir do modo pedagogicamente libertino para novamente ser sério. Promessa de campanha de Lula em 2022 e uma das principais bandeiras econômicas do governo Lula 3, a proposta certamente será utilizada em 2026 para melhorar a popularidade do atual presidente, consequentemente para ajudá-lo na provável reeleição. Aprovada por 493 votos favoráveis, ou seja, quase a unanimidade do plenário, a proposição vinha se arrastando há meses pela Câmara Federal.

Como nada é tão ruim que não possa piorar, os deputados botaram pra lascar e já cobraram a primeira promissória pela redução do Imposto de Renda. Na maior cara de pau, eles se valeram da tese do toma lá, dá cá para pautar e aprovar a redução no IR em troca do que eles mais desejavam. Pode ter sido apenas coincidência, mas nada me faz acreditar que o melzinho não foi acertado para calar a gritaria do povo com o aumento de 390% no Fundo Eleitoral para o pleito do ano que vem, cujo montante saltará de R$ 1 bilhão para R$ 4,9 bilhões.

Escancaradamente fisiológica, a manobra representou um valor quase cinco vezes maior do que a proposta inicial do governo, que projetava até R$ 1 bilhão para as campanhas de 2026. Depois não querem que digam que a Câmara e o Senado são rápidos e diligentes quando legislam em causa própria, mas lentos como lesmas mortas na análise de medidas em benefício da sociedade. Lembrando uma frase do ministro do STF Luiz Roberto Barroso, o financiamento eleitoral está na raiz de quase todos os grandes casos de corrupção do país.

Realmente, a cambada não para. Perderam a PEC da Bandidagem, mas acabaram ganhando a proposta da pilantragem. O que ainda falta para o caranguejal do Congresso se acalmar e começar a pensar no país e no iludido povo? Continuar apostando na nossa subserviência, no nosso parasitismo político e, quem sabe, na hipocrisia da elite que se beneficia com o pacífico descontentamento da sociedade. Nada mais do que isso. Políticos são e serão sempre políticos. Nunca, nunca mesmo, devemos cobrar deles nenhuma reciprocidade.

A política no Brasil é um jogo sujo de interesses extremamente egocêntricos e personalistas. Ela é surreal, um autêntico balcão de negócios, no qual a divisão dos bens auferidos é feita sem qualquer esforço ou preocupação. Temos o voto para contê-los e para defenestrá-los. O problema é a falta de vontade de perder eventuais vantagens. Em lugar de se contentar com o melzinho na chupeta, bem que poderíamos repensar a forma de eleger nossos representantes. Não tenho vocação para pensador, mas, em vez de confiar a um político as chaves da cidade, não seria melhor trocar as fechaduras? Pensemos nisso!

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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