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Silêncio quebrado

Desmonte da Saúde pode dar dor de cabeça a Rollemberg

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Carolina Paiva

Não se sabe de quem partiu a ordem, mas a orientação é esvaziar ao máximo as atividades a cargo da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. A se confirmarem as denúncias, a ação de improbidade administrativa contra o secretário Humberto Fonseca, proposta pelo Ministério Público, será apenas mais um gesto na direção de uma suposta intervenção federal no setor.

O silêncio dos telefones – a que alguns integrantes do MP se referem como ‘Caladão da Saúde’ – tem sido visto como coisa menor, algo do tipo pingo d’água no Oceano, uma vez que a atividade-fim, custeada pelos cofres da União, não tem sido promovida como determina a lei.

A sociedade tem sentido o problema no corpo, literalmente. É como se o auto sucateamento da área servisse de munição para alimentar a velha batalha para promover o ingresso das Organizações Sociais no setor da saúde pública de Brasília. O certo é que o descaso que tem afetado o atendimento de toda a população poderá ganhar mais elementos que complicarão a vida de Humberto Fonseca e da cúpula da Secretaria.

Segundo informações repassadas por servidores da Pasta que pediram anonimato, por temerem represálias, o gerenciamento dos recursos materiais e humanos da Secretaria de Saúde tem sido feito de modo atabalhoado, ditado por opiniões pessoais e, muitas vezes, pela vaidade dos gestores.

Como prova disso, alegam os servidores, estão as salas de vacinação dos Postos de Saúde que deixaram de funcionar em muitas unidades.

Abandono em Sobradinho – Na manhã desta segunda-feira, 31, a reportagem esteve nos Postos de Saúde das quadras 3 e 14 de Sobradinho, onde constatou que nenhuma das salas de vacinação estavam funcionando. Os servidores esclareceram que os responsáveis pela área foram removidos dos postos. A Secretaria, porém, não providenciou os substitutos e a vacinação foi interrompida.

Para dar vazão à demanda, os diretores dos postos estão improvisando servidores para aplicar as vacinas. Mas, como a demanda é muito grande e os servidores precisam dar conta, além da vacinação, de suas próprias atribuições, o atendimento está sendo feito de modo precário e restrito a poucos atendimentos diários.

Também não são atendidas crianças que não residam na área de abrangência do posto, independentemente de a vacinação estar ou não em dia. É uma decisão burocrática que deixa a situação ainda mais delicada.

Segundo a dona-de-casa Ivoneide (nome fictício a pedido da própria informante) que esteve no Posto de Saúde da Quadra 14 de Sobradinho no momento da visita da reportagem, desde o dia 13 de julho ela tenta vacinar sem sucesso a filha de 1ano e 7 meses.

O quadro clínico da criança, portadora de doença congênita, e que recebe, consequentemente, tratamento no Hospital da Criança, comoveu os servidores do Posto. Em um caso de rara excepcionalidade, atualizaram a vacinação da paciente e orientaram a mãe a tentar atendimento no posto próximo à casa dela.

A má gestão também afeta outras importantes áreas da saúde do Distrito Federal, que, embora menos expostas, condenam, silenciosamente, centenas de pessoas à morte lenta.

Um exemplo clássico é o caso do Posto de Saúde nº 11, da Asa Norte. Referência em tratamento de HIV/AIDS e das hepatites virais, o posto não conta com nenhum infectologista, já que dos dois médicos destacados para atender no local, um está gozando férias e outro de atestado médico, o que provoca desespero nos pacientes que dependem desse atendimento para sobreviverem.

A equipe médica, a enfermagem e os demais servidores vêm buscando alternativas para o socorro das pessoas que precisam dos medicamentos para manter o controle das doenças, por meio da renovação das receitas médicas com base nos prontuários de arquivo. Contudo, eles reconhecem que pouco ou quase nada podem fazer, uma vez que não possuem a qualificação para substituírem os profissionais da área de infectologia.

Como o retorno dos infectologistas não tem data certa, não há previsão para solução dos problemas nem perspectivas de quando será possível dar conta de toda a demanda de consultas médicas represadas durante esse período.

Por outro lado, como se já não bastassem esses problemas, os servidores denunciam que ‘na canetada’, o secretário Humberto Fonseca pretende transferir do Posto de Saúde nº 11, para a área federal, os atendimentos especializados de infectologia. A ideia é jogar a responsabilidade para o Hospital Universitário de Brasília – HUB, juntamente com os médicos e parte da equipe de apoio lotada no posto 11, sem que os servidores sequer tenham sido consultados.

Servidores lotados na sede da Secretaria informaram que há a expectativa de uma reunião nesta terça-feira, 1, para definir a transferência para a área federal dos pacientes do PS-11.

Brasília vai mal também na área de saúde. Foto/Arquivo Notibras

Rollemberg na berlinda – A falta de atendimento nos postos deverá repercutir junto ao Judiciário quando da apuração da improbidade decorrente do “Caladão da Saúde” e a transferência de pessoal concursado do GDF para um hospital federal poderá tornar grave a situação do secretário.

Embora o Ministério Público não confirme, fontes bem situadas naquele órgão dão conta de que os promotores vêm apurando, de modo sigiloso, os desmandos na área da saúde.

Dessa investigação deverão surgir medidas mais graves que poderão atingir o próprio governador Rodrigo Rollemberg. Nesse caso, ele poderia, inclusive, ser responsabilizado por homicídio culposo na eventualidade de se comprovar que, em razão de deficiência do atendimento nos postos de saúde, tenha havido algum óbito.

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