Meu pai e o futebol
Desta vez não deu, mas o Vasco ainda é o time do povo
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Meu pai é vascaíno. Desde pequena, cresci ouvindo aquela máxima repetida com convicção quase religiosa: o Vasco é o time do povo. Essa ideia atravessou a minha infância, as conversas de domingo, os jogos no rádio ou na TV, sempre acompanhados de comentários apaixonados, indignações e esperanças renovadas. Mas, apesar de tudo isso, eu não sou vascaína.
Ao longo da vida, porém, fui conhecendo outros vascaínos especiais, gente querida que ajudou a dar ainda mais sentido a essa identidade tão forte: minha prima Neide, meu sogro José Alfredo, o brilhante jornalista José Seabra, a madrinha do meu marido, a Marilda. Cada um à sua maneira, com seu jeito de torcer, sofrer e celebrar. Ainda assim, nada se compara ao vínculo que existe entre um pai e uma filha. Esse amor não se explica, simplesmente existe e atravessa até as diferenças de times.
Hoje, já adulta, eu compreendo melhor por que o Vasco é chamado de time do povo. O Vasco carrega histórias de luta, de inclusão, de resistência. Ele desperta empatia até em quem não é vascaíno. Mesmo quem torce para outros clubes, de algum modo, guarda um carinho, um respeito, uma admiração pelo Vasco. É como se o clube ultrapassasse as quatro linhas e se tornasse parte da memória afetiva coletiva do país.
Mesmo não torcendo pelos mesmos clubes, a gente aprende, com o tempo, a admirar e respeitar o time do outro. Torcer também é um gesto de afeto. Meu pai, por exemplo, já vestiu a camisa do Palmeiras só para me agradar. Um gesto simples, talvez, mas carregado de significado. Ali eu entendi que futebol, quando misturado com amor, vira linguagem de cuidado.
E é por isso que, sempre que o Vasco da Gama chega a uma final, lá estou eu. Não como torcedora, mas como filha. Torcendo pelo time do meu pai. Porque, naquele momento, o que está em jogo não é apenas o placar, mas a alegria dele.
Quando o Vasco vence, eu me alegro com meu pai. Quando o Vasco perde, eu me entristeço com ele. O sentimento acompanha, caminha junto, divide o peso e multiplica a felicidade.
Infelizmente, o Vasco não foi campeão. O resultado não foi o que a gente queria, e a tristeza apareceu. Eu me entristeci com meu pai, como sempre acontece quando o time dele perde. Mas, no meio disso tudo, ficou ainda mais claro o que realmente importa: o amor que nos une. Esse, sim, é campeão sempre.