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Patrimônio da humanidade

Devagar, Ibaneis. Brasília não é sua; é do mundo

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Leiliane Rebouças, Especial para Notibras

“Temos que parar com essa hipocrisia boba de que Brasília está tombada e, em virtude disso, deixaremos famílias passarem fome. Em nome disso, a cidade vai ficar atrasada e não concordo. Chegou a hora de transformar Brasília”. A frase é de Ibaneis Rocha, governador de Brasília, cidade declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO e tombada pelo IPHAN.

Para o governador eleito no ano passado em uma amplia coligação liderada pelo MDB, de Brasília, a lei federal que preserva a cidade em que ele nasceu, tombada por ter grande valor para a História, o Urbanismo e a Arquitetura por ser um marco do Modernismo é uma bobagem. E respeitar essa lei é hipocrisia e fazer o povo passar fome. Porque no seu curto entendimento do que significa um tombamento e uma declaração internacional de patrimônio da humanidade, tal lei e reconhecimento internacional prejudica Brasília.

Se existe hipocrisia é em achar que que a população de Brasília é ingênua e burra o suficiente para crer que tombamento prejudica o desenvolvimento da cidade e faz alguém passar fome! Basta comparar a cidade de hoje com a cidade de 10 anos atrás e vai constatar o quanto a cidade é dinâmica! E saber que a preservação (por lei) das escalas do Plano Piloto de Lúcio Costa mantém nossa qualidade de vida e características de cidade parque!

Nunca vi povo passar fome por causa de tombamento de cidade. O que faz povo passar fome é governo incompetente e corrupto.

Ibaneis já foi a Paris? Se foi, lhe parece que os parisienses passam fome porque preservam os prédios seculares da sua História? Paris poderia fechar toda a sua indústria e poderia viver do turismo graças a cultura e preservação da cidade e seus monumentos.

Em Brasília ainda não há desenvolvimento do turismo porque governadores focaram suas políticas em atender aos interesses de especuladores e não em promover cultura e na preservação da cidade.

Se ele fosse inteligente faria diferente dos antecessores e deixaria um legado positivo preservando o tombamento, desenvolvendo o turismo. Como deveria ser de fato: investindo recursos significativos a fim de sanar os problemas graves de infraestrutura turística e hospitalidade que ainda existem na capital federal.

Mas, parece que Ibaneis prefere ser somente “mais um” com um governo tão medíocre como o dos antecessores. Governo aliado aos mesmos grupos de interesse dos antecessores e realizando as mesmas práticas que a população já está cansada de assistir.

A novidade representada por sua candidatura ao governo do DF e aguardada pelo povo teve fim assim que assumiu o cargo. Na prática do exercício do poder, Ibaneis não faz nada novo.

Ibaneis, o que empobrece um povo é não valorizar a sua história , a sua arquitetura, a sua cultura. É ter um governo que não sabe ou não tem interesse em usar esse patrimônio em favor da população desenvolvendo o turismo da cidade exaltando o título internacional que ela tem.

Hipocrisia é fazer uma declaração estapafúrdia dessas contra a preservação de uma cidade que nos orgulhamos, a fim de encobrir interesses de uma especulação imobiliária que está ligada até as entranhas com o seu governo ávido por modificar todas as leis que a preservam.

Por sorte, já existe uma geração que ama, entende o significado de viver em um patrimônio da humanidade e defende com unhas e dentes o seu tombamento! E foi uma parte dela que vi em manifestações na ‘telinha’ desqualificando a declaração cínica desse governador que está mostrando ao que veio: assumiu o poder com intenção de destruir a cidade que ele nasceu, por ganância dos grupos de interesses que o cercam.

O governador, que é advogado por formação, surpreendeu a população do Distrito Federal com uma declaração que demonstra claramente o seu desprezo e ignorância pelo que representa um patrimônio nacional reconhecido internacionalmente como patrimônio da humanidade. Parece desconhecer as consequências de tal fato para o turismo e desenvolvimento de Brasília, e pior, não sabe o quanto seria prejudicial para a imagem da cidade perder esse título por descaracterizá-la após flexibilizar as leis que a protegem.

Tal declaração nos choca profundamente por se tratar do primeiro governador nascido em Brasília, e por ter formação jurídica. A quem se esperava, no mínimo, defender a cidade e saber a importância de preservá-la para as gerações futuras, já que Brasília é sui generis, não é uma capital como qualquer outra e pertence à toda humanidade.

Diante de tal declaração que ameaça a nossa cidade, cabe à população de Brasília ficar alerta para o seu mandatário. Deveríamos ir para as ruas em defesa do tombamento de Brasília e do seu patrimônio. Para mostrar para esse governador que estamos de olho e que ele tema obrigação de preservar nossa cidade e vamos cobrar que cumpra o seu dever.

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