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Ganância

Dilema Capitalista – o Pescador

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Autor/Imagem:
João Pedro - Foto Francisco Filipino

Na vila de pescadores existiam muitas famílias que viviam dos frutos gerados pelo oceano, havia abundancia de peixes e todos conseguiam tirar seu alimento e sustento daquele pedacinho de mar.

Todos estavam em harmonia e com sua vida bem encaminhada, devido a divisão dos recursos e a abundancia dos mesmos. Sim todos tiravam o suficiente para o dia e voltavam para sua casa.

Alguns pescadores tiravam um pouco a mais para vender os peixes que pescavam. Porém todos estavam vivendo bem em uma praia maravilhosa, as famílias coexistiam de forma tranquila e amistosa.

Certo dia um empresário chega para comprar um peixe, e o pescador comenta que ali havia farturas de peixes. Peixes de todos os tipos para todos os gostos.

O empresário enxerga uma boa possibilidade de investimento naquele local, então pergunta para o pescador se ele tinha a ambição de se tornar rico, conseguir o poder de viver a vida que ele sonhasse.

O pescador fala que sua vida já é boa e não conseguia pensar em nada que a tornaria melhor, mas o empresário segue falando de bens e pessoas que o dinheiro pode comprar. Porém o que mais intrigou aquele humilde pescador foi a possibilidade de ganhar poder através do dinheiro.

Pensar em se colocar acima dos demais e dar coisas melhores para sua família, dar uma maior oportunidade para seus filhos serem algo além de um mero pescador. O empresário consegue colocar a ideia de que ser simples é ser menor, a ideia de que poder compra a liberdade.

Então convencido o pescador aceita ser parceiro do empresário e começam a planejar um aumento substancial no volume pescado.

O empresário compra dois navios grandes, uma rede enorme e contrata alguns pescadores locais para trabalhar com ele. O pescador seria o gerente de tudo, indicaria os melhores locais de pesca e cuidaria para a mercadoria chegar em bom estado para venda.

No primeiro dia de pesca, após os navios passarem arrastando as redes pelo mar, ao puxar as redes o pescador percebe que para pescar 1 tipo de peixe eles matavam 7 espécies diferentes de outros animais marinhos. Isso o chocou percebeu que aquele tipo de pescaria seria predatório demais.

Então após finalizarem aquele dia o pescador foi falar com o empresário sobre a devastação que aquele tipo de pescaria geraria na região. Durante a conversa o empresário fala sobre existência dos tantos tipos de animais marinhos, dando a entender que seria impossível extingui-los, o pescador aceita sem concordar plenamente. Ao perceber isso o empresário tira um maço de dinheiro e entrega ao pescador, diz a ele que era sua parte nos pescados do dia.

Ao ver o dinheiro o pescador esquece dos problemas e só pensa em chegar em casa e contar para sua família, mostrar que estavam crescendo e logo teriam uma vida melhor.

Alguns meses se passam e o pescador já havia se mudado da vila e o trabalho já havia virado sua rotina. Passava dias embarcado com os demais pescadores e voltava com os peixes para poder ganhar o seu dinheiro. Sabia que precisava trazer mais peixes para ganhar mais dinheiro.

Com o passar do tempo ele percebeu que cada dia vinham menos peixes na rede, e com isso seus ganhos estavam diminuindo. Porém estava preocupado, pois seu custo de vida havia aumentado e acabara de pedir alguns empréstimos no banco para investir no seu novo negócio.

Então ele se encontra com o empresário e conversa para aumentar sua parte nos ganhos, o empresário lhe diz que não consegue dar mais e que eles precisavam demitir alguns ajudantes e fazer uma grande redução no salário de todos.

O pescador triste leva a notícia aos seus ajudantes e os diz que sacrifícios precisam ser feitos, só assim o negócio iria seguir adiante. Mas os sacríficos eram por uma boa razão, acreditava o pescador.

O volume de pesca segue caindo, pessoas seguem sendo demitidas e salários seguem diminuindo. O pescador começa a ter problemas com as dívidas e sua vida financeira entra em colapso.

Um certo dia ao entregar um volume muito pequeno de pescados o empresário pede para o pescador chegar em seu escritório. Ao chegar lá o empresário avisa que o negócio não é mais rentável e está saindo da parceria, ele iria começar a pescar em outra região e precisaria dos 2 navios também.

O pescador entra em desespero e pede para que o empresário lhe ajude, pois havia comprando um navio pensando no aumento dos pescados e agora esse se tornaria uma dívida impagável. O empresário compra o navio a um preço de esmola e pede para o pescador ser compreensivo, pois era um sacrifico necessário.

Naquele momento o pescador sentiu o que todos os ajudantes sentiram quando foram demitidos ou tiveram seus salários cortados. Ele viu que o empresário passava uma parcela minúscula dos lucros para ele e quase nada para os ajudantes.

Na verdade, o único que ganhou dinheiro no processo foi o empresário, que explorou todos e lucrou em todos os lotes de pescados.

Sentindo-se muito mal o pescador volta para a praia, onde morava na vila dos pescadores antes disso tudo. Viu que ali não havia mais nada, apenas um último homem persistente que insistia em pescador naquela região que antes tinha abundancia de peixes, mas que agora não havia mais vida naquele mar.

O homem se aproxima e lhe diz, antes aqui havia tantos peixes e tantas famílias viviam bem. Era um paraíso para todo mundo, trabalhavam menos e viviam mais. Viviam suas famílias, seus filhos brincavam à vontade e no fim do dia a comida fresquinha estava na mesa.

O homem segue falando, agora graças a ambição e egoísmo, graças ao dinheiro, estamos aqui com um oceano sem vida e as famílias que viviam dele se acabaram, exauriram nossa fonte de sustento.

Então este homem pega seu barco e some no horizonte, o pescador fica ali com um sentimento de culpa.

Sabe que todos os 7 peixes que matavam para pescar apenas 1, devido ao preço de mercado deste ser melhor, devastou o ecossistema que gerava pequenos ganhos para muitas famílias. Essa forma de pesca favoreceu apenas ao empresário, nem mesmo o pescador que era o principal parceiro e gerente do negócio ganhou algo.

Ao chegar em casa o pescador fala sobre a situação, diz que a família vai voltar a sua antiga vida. Observa que sua família mudou muito os padrões e a transição para uma vida mais simples não será nada fácil.

No fim surge uma reflexão, o pecador buscou tanto uma vida confortável e levar sua família para viver em lugar paradisíaco, e acabara esquecendo que já vivia em um lugar paradisíaco e possuía uma vida tranquila com tudo o que precisava.

E toda essa ambição na verdade nunca foi sua, foi apenas um valor que lhe disseram ser bom e no fim as coisas possuem o valor que damos a elas.

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