A lingua e a baioneta
Direita, volver, é marcha de soldado, não de político
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A extrema direita transformou a desinformação em método político. Não se trata de ignorância ou de um suposto mal-entendido diante da complexidade da informação. É canalhice calculada. O mecanismo é simples e perverso: criar uma mentira, revesti-la de emoção, geralmente medo, ódio ou indignação moral, e lançá-la nas redes com a confiança de que será compartilhada antes que a checagem alcance o público.
Esse processo não nasce da ingenuidade. É estratégico. Mentiras são produzidas e disseminadas para corroer a confiança em instituições, desacreditar adversários e alimentar uma sensação de caos permanente, no qual apenas os líderes fortes da extrema direita se apresentam como faróis de ordem. A repetição constante desses falsos relatos gera uma espécie de fadiga cognitiva. O público passa a duvidar de tudo, inclusive de fontes legítimas, e a verdade deixa de ser uma referência estável.
Há, portanto, um caráter propositalmente corrosivo nesse método. Ao contrário do erro honesto, aqui se trata de uma aposta consciente na degradação do debate público. A mentira não é um desvio, mas o próprio combustível que os alimenta. É um jogo de cinismo no qual a política deixa de ser diálogo ou disputa de projetos e se torna apenas uma máquina de manipular afetos e distorcer percepções públicas.
Esse método de canalhice revela também um desprezo profundo pelo povo. Ao disseminar fake news de forma consciente, a extrema direita trata seus seguidores como massa de manobra, incapazes de reflexão crítica, úteis apenas enquanto reagir instintivamente ao que recebem. É um pacto baseado na exploração da fé.
No fim, a mentira deliberada não é apenas uma estratégia eleitoral. É um projeto de poder que precisa do caos para prosperar. Se o mundo real não legitima seu discurso, cria-se um mundo paralelo, sustentado pela mentira constante. Essa é a engrenagem da extrema direita: não disputar ideias, mas sabotar a própria noção de realidade e transformar o povo em mentes aprisionadas e manipuláveis ao seu bel-prazer.