Curta nossa página


Marina Dutra

DISTIMIA: A tristeza que veste um sorriso para fingir estar bem

Publicado

Autor/Imagem:
Marina Dutra - Foto Francisco Filipino

Tem gente que não desaba, mas vive desbotada. Não chora, mas também não ri de verdade. Levanta todo dia, faz o que precisa ser feito, trabalha, cuida dos filhos, posta foto sorrindo… e por dentro sente um vazio que não some nunca.

Isso tem nome: distimia ou, como a psiquiatria chama, transtorno depressivo persistente.

A distimia é uma depressão de fundo, aquela tristeza que não te derruba de vez, mas te acompanha como uma sombra.

Não te impede de viver, mas te impede de sentir que está viva.

É acordar já cansada.

É fazer o almoço, mas sem vontade de comer.

É ver o sol brilhar lá fora e, por dentro, continuar nublado.

É estar rodeada de gente e mesmo assim se sentir sozinha.

A pessoa distímica é, muitas vezes, a que mais parece bem. Ela funciona, entrega o trabalho, ri da piada, vai ao churrasco, ajuda os outros. Mas, no fundo, sente que tudo é um esforço. É um teatro diário pra não preocupar ninguém, pra não ser “a dramática”, pra não parecer ingrata pela vida que tem.

Distimia é aquela voz interna dizendo: “Não tá ruim, mas também nunca tá bom.” É viver no modo “sobrevivência”, sem grandes quedas, mas também sem grandes alegrias. Um meio-termo constante entre o tédio e a exaustão.

Por exemplo, uma mulher que chega em casa, joga a bolsa no sofá e pensa: “Eu só queria sumir uns dias.” Ou é o homem que responde “tudo certo” quando perguntam, mas sente um peso no peito o tempo todo.

É a mãe que ama os filhos, mas sente culpa por não ter energia pra brincar.

É o amigo que se isola porque está cansado de fingir que está bem.

O problema é que a distimia é sorrateira. Ela não grita. Vai corroendo aos poucos o entusiasmo, a fé, a esperança.

E como não parece algo “grave”, muita gente passa anos assim, achando que “é o jeito dela”. Mas não é personalidade, é sofrimento disfarçado de costume.

E o primeiro passo pra sair desse buraco silencioso é parar de achar que sentir-se apagada é normal. Não é normal viver cansada de viver. Não é normal não sentir prazer em nada. Não é normal se acostumar com a dor.

A boa notícia é que existe uma saída e ela começa com autoconhecimento e ajuda profissional. A terapia é uma das formas mais potentes de entender o que está por trás desse desânimo constante. Muitas vezes, a distimia nasce de feridas antigas, de crenças instaladas lá atrás de que “eu não posso fraquejar”, “ninguém se importa comigo”, “tenho que aguentar tudo sozinha”. Mas quando essas feridas são olhadas e tratadas, a alma começa a respirar de novo.

Além da terapia, cuidar do corpo ajuda a reequilibrar a mente: sono de qualidade, alimentação anti-inflamatória, movimento diário e pausas de verdade, não só entre um trabalho e outro, mas pausas pra existir.

Distimia não é preguiça, nem falta de fé. É um pedido de socorro da alma que cansou de fingir que está bem. E o antídoto pra isso é coragem pra pedir ajuda, pra se olhar com compaixão e pra recomeçar, mesmo sem força.

Porque viver não é só “dar conta”. É sentir a vida vibrar de novo dentro da gente. E essa faísca pode voltar com cuidado, com tempo, com verdade.

……………………

Marina Dutra – Terapeuta Integrativa
Instagram: @sersuperconsciente
E-mail: sersuperconsciente@gmail.com

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2025 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.