LUTO AMARELO
Domingo passado foi terrível para o gado
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Domingo terrível para os seguidores de Jair.
Segunda-feira de “luto disfarçado, amarelo”, no botequim do Maneca, freguesia da Pinheira.
Cheguei antes do almoço no Bar do Maneca, pedi um rabo de galo e uma “gordinha” estupidamente gelada. Fiz cara de joelho e o silêncio era tão profundo que dava para ouvir o zumbido das moscas sobrevoando o bar-cemitério.
De canto de boca perguntei ao velho bodegueiro, “Mas o quê me contas do final de semana, Maneca?”.
Com olhar fulminante, ele foi curto e pesado, “Merda, amigo! Nem vem de sarro, não pôixs a galera tá raivosa, visse!”
Dei de desentendido.
“Oitxa…mas que passa?”
“Passa que agora além de ter que suporta o nove dedos fazendo turismo aí pelo mundo com o nosso , a gente ainda tem de desliga o celular pra não ver tanta mentira, esculhambação zuando o mito! Tudo mentirada… coisa de comunista juramentado… Só fake news”.: Tomei o rabo de galo e matei com a cervejinha gelada.
E conclui baixinho para não provocar os camaradas prostrados nas mesas do botequim:
“Pois então, Maneca quirido… Eu te falei…eu disse no ano passado: a maré vai e vai e vai, mas sempre volta. Tá voltando gigante… e com anticiclone”.
Maneca coçou os poucos fios de cabelo da cabeça e sem mover um músculo facial e nem piscar limitou-se a esse pensamento-perola da imaginação “fanatística amarelinha”:
“Tudo mentira. Nem o Lula nem o Trump são de verdade; são atores igual os de verdade, mas são falsos. Os gringo americano não dão ponto sem nó…ara, ôxa… levaram os sósias dos presidentes e armaram aquele teatro todo só prá engana os chineses… Ispera…Ispera só o ano que vem, visse…a nossa resposta vai ser na urna!”.
Paguei os tragos, dei tchau pro Maneca e tomei o rumo da pousada. No caminho o pensamento me infernizava ecoando a frase final do velho fascista:
“Ispera…Ispera o ano que vem…nossa resposta vai ser na urna”.
Gargalhei sozinho e complementei em voz alta:
“Na urna, patriota, na urna… Depois do encontro deste domingo lá na Malásia, em 2026, só se for urna funerária.”
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Gilberto Motta é escritor, jornalista, professor/pesquisador que sempre diz que “o meu ouvido não é penico”, mas não perde a chance de ouvir fantásticos causos reais. Vive na Guarda do Embaú, vila de pescadores e turistas no litoral Sul de SC.