Bebês reborn
Dona Moro, cá pra nós, a senhora não tem mais o que fazer?
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Tenho acompanhado, com a devida mistura de espanto e sarcasmo, o surto coletivo que tomou conta da sociedade em torno da moda dos bebês reborn.
E, veja bem, não estou me referindo ao “surto” das mulheres que cuidam dessas bonecas como se fossem filhos de verdade. Isso, sinceramente, nem me espanta tanto. Quem nunca precisou criar um afeto simbólico pra lidar com a dureza da vida? O surto mesmo é de quem está de fora, analisando o fenômeno como se estivéssemos diante de uma ameaça à ordem social.
De uma hora pra outra, ninguém mais fala de outra coisa. É reborn pra cá, reborn pra lá. As bonecas são tão realistas que provocaram reações que beiram ao delírio coletivo.
A histeria chegou a tal ponto que uma deputada federal — a própria Rosângela Moro, sim, essa mesma — decidiu intervir. Mas não para garantir acesso à saúde pra mães reais, que vivem jornadas de 14 horas por dia, cuidam de filhos sem rede de apoio, enfrentam ônibus lotado, racismo institucional, assédio nos postos de saúde. Não. A prioridade dela foi… propor atendimento no SUS para as mães de bebês reborn.
Aparentemente, o sofrimento simbólico das cuidadoras de bonecos ultrapassou, no ranking da empatia política, o sofrimento concreto das mulheres de carne e osso. As que passam a vida lutando pra garantir o mínimo pros seus filhos — comida, escola, dignidade. Essas não inspiram projetos de lei, discursos emocionados nem selfies no plenário. São invisíveis, afinal.
Mas vamos lá, segue o baile. E se alguém encontrar uma boneca reborn chorando por aí, avisa à deputada. Vai que ela apareça com uma emenda.