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O pai, a filha e o galo

Dor em trombada com pilastra some com carinho

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Luzia Campos

A menina caminhava ao lado do pai até a estação Arcoverde, em Copacabana. Assim que chegaram, o homem foi comprar os bilhetes. A garota, aflita para descer pela escada rolante, tomou o seu das mãos do pai. Ele sorriu, enquanto a menina passava ligeiro pela catraca. Sumiu!

O homem ouviu um som seco assim que depositou o bilhete. Curioso, foi até a escada rolante e, lá de cima, avistou a filha com uma das mãos na testa. Logo percebeu que a garota, tentando se esconder dele, deu uma trombada contra o mármore que separa a escada que sobe da que desce. Essa doeu!

Apressado, desceu o mais rápido possível para acudir a filha, que lacrimejava. Ele a abraçou e os dois caminharam juntos. Passaram pelas outras escadas e esteiras rolantes até que, finalmente, chegaram ao ponto de espera do metrô.

O pai percebeu um enorme galo na testa da filha. Ele foi até a máquina de refrigerante ali perto, depositou uma nota e, em seguida, pegou uma lata de Coca-Cola bem gelada. Ele a entregou à menina, que, mesmo constrangida pela situação, a colocou sobre o calombo.

Já sentados no vagão, a menina percebeu que todos os outros passageiros a encaravam com olhares curiosos. O pai a abraçou, o que a fez se sentir um pouco melhor, apesar do galo que não parava de cantar, tamanha a dor.

Os dois desceram na Central do Brasil. O pai comprou analgésico na farmácia e, em seguida, pediu um pouco de gelo para um colega ali em um dos quiosques de salgadinhos. Rumaram para o trem, que os levaria até a estação de Madureira.

Apesar de melhor, a garota pediu pro pai para não ir à escola naquele dia. O homem olhou a filha e disse que ela precisava ir, pois ele já estava atrasado pro serviço, que ficava na Penha Circular, o que o obrigava ainda a pegar um ônibus.

– Tudo vai ficar bem. E, se não ficar, saio antes do trabalho e voltamos pra casa mais cedo.

A menina olhou o pai e esboçou um sorriso. Enquanto ela entrava no colégio, ele atravessava a rua. Assim que o homem chegou à calçada, ele se virou e, mais uma vez, se despediu da filha. Tudo ia ficar bem. E ficou.

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