Enterro de Lula 4
E agora, Dino?! Vai mandar Andrei ver as maracutaias do seu afilhado Cappelli?
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Por mais que a máquina pública brasileira esteja acostumada a escândalos envolvendo uso indevido de recursos, certas situações se destacam pelo abuso escancarado e pela conivência que encontram o cofre aberto em setores que deveriam atuar com rigor. Esse parece ser o caso de Ricardo Cappelli, presidente Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, acusado de usar dinheiro público para construir sua imagem política. Cappelli age como se o Governo Lula 3 fosse um apêndice da caverna de Ali Babá, com direito a impulsionamentos de postagens, ataques a adversários e até uma estrutura de comunicação digital dentro da própria ABDI.
Segundo documentos revelados pelo Jornal da Record, e posteriormente checados por Notibras, os gastos de Cappelli com comunicação institucional saltaram de maneira exponencial, resultando em cerca de R$ 8,1 milhões para uma única agência – contrato esse prorrogado e ampliado por aditivos assinados pelo próprio Cappelli. Na ponta do lápis, ultrapassando os dois dígitos de milhões de reais. Não bastasse a magnitude de toda essa bandidagem, há indícios de que parte desses recursos foi investida em uma verdadeira “usina de conteúdo político”, em que a promoção institucional se confunde com propaganda pessoal de pré-candidato disfarçado.
A ABDI, que deveria fomentar inovação e desenvolvimento industrial, acabou transformada em palco de guerra política e em trampolim para ambições eleitorais do seu presidente. Trata-se de mais um capítulo do uso da máquina pública como instrumento de poder e marketing. Em síntese, mais uma decepção para quem acreditou que a modernização estatal, com Lula 3, também passaria pela ética. Ledo engano.
Para mostrar que o quadro é bem mais sujo do que um grande chiqueiro onde a porcaria reina, há um elemento ainda mais sensível nesse caso. É que Cappelli é filiado ao PSB, partido do ex-ministro da Justiça e atual ministro do STF, Flávio Dino. E é aqui que a corda começa a tensionar de forma incômoda. Afinal, se os indícios de uso indevido de verbas públicas para autopromoção ou para atacar adversários forem confirmados, estamos diante de um possível caso de abuso de poder político e econômico. É preciso investigar maracutaias em um terreno que exige atuação da Polícia Federal e do Ministério Público, não apenas da imprensa.
Será que a PF terá independência para investigar esse caso com o mesmo afinco com que atuou em outros episódios envolvendo uso político da máquina pública? E como fica Flávio Dino nessa equação? O ministro, que já comandou a Justiça tendo Cappelli como braço-direito, e agora julga decisões que podem determinar os rumos do país, verá um aliado partidário sob investigação por práticas que afrontam a lisura da administração pública?
Se conselho fosse bom, Dino, ninguém dava, vendia. Mas se Você, do alto da sua integridade, não entrar no circuito em tempo hábil, ficará sob suspeição, porque tal decisão, caso não saia, terá o cheiro da insensatez e de corporativismo. E isso não passará despercebido, ao menos sob o ponto de vista de Notibras, com certeza.
Nesse tabuleiro político, Cappelli achatou as fronteiras entre o que é discurso institucional e o que é propaganda pessoal. O que se espera agora é que as instituições — a CGU, o TCU, a PF e o Ministério Público — façam seu trabalho com isenção, por ordem expressa de Flávio Dino, sem medo de tocar em quem está próximo do poder. Porque se a República deve a si mesma um compromisso, é o de romper com a velha máxima do “amigo do rei”.
O que está em jogo não é apenas a reputação de um gestor, mas a integridade da coisa pública, cobrada pelos mesmos contribuintes que pagam por anúncios patrocinados enquanto hospitais fecham e obras ficam no papel. É hora de perguntar: quem vigia os governantes? Se o sistema não responder, o descrédito será o único vencedor.
Afinal, não é de hoje que o PSB parece gostar de brincar com fósforos perto de tonéis de gasolina. Foi assim no governo de Rodrigues Rollenberg quando de sua passagem pelo Palácio do Buriti. O partido de Flávio Dino e do vice-presidente Geraldo Alckmin até tenta vender a imagem de guardião republicano dos bons costumes, mas, na prática, vive acendendo fogueiras com dinheiro público, como no caso de Ricardo Cappelli, o “influenciador industrial”.
Enquanto o país rala para fechar as contas, a legenda ergue sua sombra generosa sobre cabides de emprego, onde o slogan parece ser de “Socialismo e oportunidades — para os nossos”. Se é verdade que o Estado é laico, o PSB mostra que é possível ao menos ser piedoso com quem já está no topo da escada do poder. Cazuza cantava sobre “o museu de grandes novidades”. No Brasil de 2025, esse museu é público, caro, e funciona 24 horas. Com a Wi-Fi patrocinado pela ABDI.
Notibras reitera seu posicionamento. Cappelli precisa ser investigado pela equipe de Andrei Meirelles. Mesmo porque, amigos, amigos, governo (ou seriam negócios?) à parte. Com a palavra Flávio Dino, Geraldo Alckmin (que deveria ter demitido sumariamente o presidente do órgão vinculado ao seu ministério) e o diretor-geral da Polícia Federal. Porque o presidente da ABDI brincou com fogo. E as chamas podem se alastrar em direção ao Palácio do Planalto a um ano de um pleito que pode manter o Brasil no trilho, ou fazer Lula cair em um precipício onde não se vê o fundo capaz de, facilmente, enterrar o Lula 4. O mesmo Lula que já viu ‘300 picaretas’ no Congresso Nacional, mas não enxerga os trambiqueiros à sua volta.
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José Seabra, de passagem por Brasília, é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras
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**Texto alterado às 08h53 para correções de grafia.
