Silêncio de corredor
É preciso escrever para salvar e salvar-se nas paredes do manicômio
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Os corredores são longos, frios, impregnados de um cheiro agridoce de álcool e ausência. Os olhos que me olham, às vezes atentos, outras vezes perdidos em um vazio que só quem convive com a loucura reconhece.
Ao lado, a ficha clínica, a prancheta, o diagnóstico: esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar. Eu, com meu caderno, tentando dar conta do indizível, do que não cabe em prontuários.
Vejo Marta, que canta baixinho no refeitório; vejo José, que escreve cartas para um Deus que talvez só ele conheça.
Ali, no hospital psiquiátrico, percebo o quanto a sociedade performa suas representações do normal e do desviante, como diria Goffman. E percebo também a violência do silêncio: calar o outro é calar sua existência.
Escrevo para que Marta e José sejam mais que estatísticas. Escrevo para que seus nomes não desapareçam. Escrevo porque, ao narrar, eu também sobrevivo.
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