Entrevista/Eduardo Martínez
Edu, nosso Cronista Número 1, abre o jogo para seus leitores
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Talento para escrita é algo que transborda nesse carioca ganhador de vários prêmios literários, cujos textos há tempos são utilizados em escolas no Rio, Brasília, Brodowski-SP e outras cidades espalhadas por este Brasil. E pensar que o nosso entrevistado de hoje já pensou em desistir da literatura.
Apelidado aqui na redação de Notibras de Cronista Número 1, Eduardo Martínez, o nosso Edu, revela que o mais importante para qualquer escritor é ser lido.
Veja a seguir trechos da entrevista:
Fale um pouco sobre você e sua trajetória literária.
A minha trajetória como escritor começou de fato em setembro de 2003, quando, durante meu horário de lanche no Banco do Brasil, isso no Rio, decidi escrever um romance. E, durante dois meses e meio, sempre no horário do “recreio”, consegui concluir o meu primeiro livro, ‘Despido de ilusões’, que foi lançado no ano seguinte pela editora Achiamé, do saudoso Robson Achiamé, um dos maiores torcedores do Botafogo que tive o prazer de conhecer e me tornar amigo. A partir daí, comecei a divulgar tanto esse trabalho, que, já no ano de 2006, o meu livro liderou o número de pedidos para leitura na biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil. Em 2006, lancei um livro sobre educação canina, ‘Meu melhor amigo e eu’, também pela editora Achiamé. Em 2012, foi a vez do romance ‘Raquel’, mas sem muita repercussão, ainda mais porque acabei levando um cano da editora Canápe Cultural. Isso me desanimou e acabei largando a literatura por quase dez anos, quando, então, a minha esposa, a Dona Irene, meio que me obrigou a voltar a escrever. Então, no dia 23 de dezembro de 2021, ela criou para mim o Blog do menino Dudu, e eu comecei a escrever compulsivamente. O resultado é que meus contos e crônicas acabaram indo parar em escolas no Rio, em Brasília e em Brodowski-SP, o que chamou a atenção do então Editor-Chefe do Notibras, o jornalista José Seabra, vulgo Chefe, que me convidou para publicar diariamente meus textos no jornal. Desde então, já são quase mil contos/crônicas publicados, além do lançamento do meu mais recente livro, ’57 Contos e crônicas por um autor muito velho’, que, entre outros prêmios, está concorrendo ao Jabuti, ao Oceanos e ao Clarice Lispector deste ano.
O que o inspira a escrever? Como é o seu processo criativo?
Ceci, pra falar a verdade, diria que praticamente tudo, seja uma fotografia legal, uma frase interessante que ouço na rua, algo que me contam no dia a dia. São tantas coisas, que sempre ando com um bloquinho de notas no bolso para anotar tudo para não esquecer. Minha esposa até brinca comigo que a frase que ela mais ouve de mim é: ‘Hum! Isso dá uma boa história!’ Outro fato que me estimula é que o Chefe e eu temos um acordo que me “obriga” a publicar diariamente ao menos um conto/crônica no Notibras. Às vezes são dois ou três, mas já houve vez que foram publicados quatro no mesmo dia. E tem um cara que me estimula a não deixar o nível dos textos cair, que é o Dan (escritor, poeta e editor do Café Literário Daniel Marchi). É que o cara é tão bom, que eu ficaria envergonhado se os meus textos ficassem muito aquém dos que ele publica.
Há alguma preferência por temas ou gêneros?
Gosto muito de humor, escrevo muito também sobre relacionamentos. Esse mote é tão vasto, que creio que dá para falar disso sem ser cansativo, sem ser repetitivo. Também escrevo histórias infantis e de terror. Terror porque a Dona Irene gosta muito. Estou escrevendo um romance, cuja ideia quase roubei do Dan lá pelos idos de 2006. É que somos descendentes de italianos, e ele me disse que estava pensando em escrever sobre o avô, o saudoso Waldemar Marchi e seus antepassados vindos da Itália. Como eu estava pesquisando sobre a história dos pais da minha avó materna, Carluccio Cesario e Aida Florestina Rossi, comecei a escrever um romance, que, até hoje, não tem nem 20 páginas. Mas uma hora engreno de vez e a coisa sai.
Textos coletivos não é algo tão comum entre os escritores. Como é lidar com outros escritores? Você se frustra ao se deparar com lidar com outros escritores os caminhos diversos que seus colegas tomam em relação ao texto?
Bem, quem me veio com essa ideia foi a Edna Domenica. Nunca havia ouvido falar disso. Se bem que há gente que escreve letra de música em parceria. Mas nunca mesmo imaginei uma história escrita a tantas mãos. Mas aceitei o desafio, que, a princípio, me causou dúvidas. Afinal, quem é que decide a trama, o desenlace? Imaginei que seria algo como uma orquestra, só que cada um tocando um ritmo diferente: olha lá a Edna no frevo, o Cassiano no tango, a Marlene no rock, a Rosilene atacando de baião, e eu tentando aqui puxar pro lado do samba. O engraçado é que a história, assim que vai ganhando corpo, começa a fazer sentido. Quanto à frustração, não sinto isso. É interessante ver o estilo, o pensamento de cada um, e lidar com pessoas tão distintas me parece ser algo salutar. A vida é assim, né?!
Como você controla o ego de escritor ao trabalhar com outros autores? Há uma disputa interna ou você consegue levar isso numa boa?
Ego? Ceci, sei que o que escrevo é bom, mas sempre fui leitor do Machado de Assis, do Lima Barreto, de gente tão talentosa. Acompanho o trabalho de diversos autores contemporâneos, tenho como amigo pessoal há décadas o fenomenal Daniel Marchi. Como é que vou ter ego diante dessa galera? Por isso, levo numa boa esse trabalho com outros autores, ainda mais porque vejo que são todos muito bons, e acabo aprendendo demais com eles. Penso que sou um privilegiado por ter tamanha oportunidade.
Como você lida com as críticas ao seu trabalho?
Sabe, taí uma coisa que levo tão de boa e, muitas vezes, fico surpreso com as coisas que o público fala. Quase sempre recebo elogios, algumas vezes sou até abordado na rua por alguém que diz que gostou de um texto específico. De vez em quando, o que não é tão frequente, recebo comentários não muito lisonjeiros. Já fui até xingado, mas realmente não me importo. Sabe, creio que o papel do escritor não é ficar batendo boca com os leitores, até porque o cara se dispôs a ler o que você escreveu. Então, deixo o cara extravasar e tá tudo bem. Sem contar que, quando sou convidado para ir a alguma escola, sou sempre recebido por vários alunos que me tratam como que se eu fosse alguém importante. Nessas horas, tenho certeza de que abracei a melhor profissão do mundo.
Como você se relaciona com seus leitores?
Taí uma coisa bem legal! Como disse, os meus leitores, quase sempre, são muito carinhosos, especialmente os alunos das escolas que utilizam meus textos. Também recebo muitas mensagens legais pelas redes sociais. Alguns leitores acabaram virando meus amigos. Uma delas é a Adriana, que me reconheceu na Feira Ecológica do Menino Deus, em Porto Alegre. Também houve um caso bem interessante, que é o do João, que conheci na Feira do Livro de Porto Alegre. Ele se aproximou todo tímido e pediu para tirar uma fotografia comigo. Quando já estava em casa, a minha mulher me mostrou que um rapaz havia postado a foto no Instagram e dizia que estava muito feliz por ter conhecido o escritor Eduardo Martínez. Então, Ceci, não tenho mesmo o que reclamar sobre o relacionamento com o público, até porque o mais importante para qualquer escritor é ser lido.
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Instagram: @escritoreduardomartinez