Apaixonados
Ela e o poeta
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Trocavam mensagens durante o dia, cada um no seu trabalho. Ele, mais carente, buscava a sombra da esposa, onde se sentia protegido das agruras que o afligiam. Ela, por sua vez, demonstrava altivez de quem encarava a vida, apesar dos medos e, não raro, inseguranças.
Ele era escritor, mas quem era dona da palavra era a sua amada, que sempre tinha a resposta pronta na ponta da língua ou, caso não tivesse, era artista o suficiente para dizer qualquer coisa que confortava o coração do sujeito. Entretanto, naquela manhã, ele recebeu uma mensagem dela, que o deixou perplexo. Não apenas palavras, como também uma fotografia, cuja incongruência com o dito era flagrante: “Sua esposa velha.”
O homem pensou, sorriu, voltou a pensar e, novamente, sorriu. Velha? Onde? Quando? Velha? Como assim? Não disse nada, preferiu escrever e mostrar que ela, pelo menos dessa vez, estava enganada.
Ele pensou em fazer um poema, mas talento lhe faltava para tanto. Era da prosa. Todavia, arriscou e, usando o instinto, acabou por ser ainda mais piegas do que de costume.
Assim que abriu a mensagem, ela sorriu e pensou, quer dizer, teve certeza de que ele era o mais desastrado poeta que já havia lido. Que estabanado! Desajeitadamente lindo.
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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’.
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