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Lábios imploram

Elegia de Um Mundo Silenciado

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

O mundo veste um manto de gelo,
e os ventos errantes deslizam
como fantasmas entre ruínas.
O chão, antes fértil, agora sangra espinhos,
e os sonhos, desidratados,
se perdem no leito de um rio que esqueceu de correr.

A lucidez se ausenta dos tronos,
a indiferença se ergue como muralha,
e o rancor dança em praças vazias.
A saudade, pálida, naufraga
nas marés amargas do esquecimento,
enquanto os relâmpagos se dissolvem
em um céu sem testemunhas.

Onde repousam os risos infantis
que antes coloriam os parques?
Onde se escondem os gestos ternos
dos amantes sob a luz da rua?
Onde está o brinde à vida
em taças de cristal e vinho claro?
Onde estão os abraços
que costuravam os céus aos nossos ombros?

A inocência virou lenda,
e os recém-chegados ao mundo
já carregam armaduras em vez de brinquedos.
A terra, que um dia foi lar,
transformou-se em campo de desatino,
onde a paz é apenas uma pena caída
e a oliveira chora na lama.

A liberdade jaz em celas de esquecimento,
e os sonhos ah, os sonhos
se refugiaram no horizonte sem cor.
No altar das almas,
as velas se recusam a acender,
e a esperança treme
como floco de neve no cume do desespero.

O tempo chora o que já foi,
seu compasso é uma marcha sem retorno.
Os corações, em lamento,
se curvam diante do colapso,
enquanto os lábios imploram
por um gesto de clemência do infinito.

O riso das crianças se tornou eco distante,
e agora são os gritos dos que cresceram
que cruzam os céus,
como aves feridas em busca de abrigo.

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