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Alá salve o Brasil

Eleitor decide tratar como bijuteria quem pensou ser joia

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Reprodução/IstoÉ

Na história deste país, nunca um presidente tão amado terminou o mandato tão odiado. São os variados degraus da fama: um dia o poder absoluto, no outro a sujeira e a lama. Do endereço mais cobiçado do Brasil, onde chegou sem capacidade alguma, Jair Messias fugiu e foi morar de favor na casa de um lutador aposentado e sem muitos vínculos com seu país de origem. Enfim, de Brasília para os Estados Unidos e, de lá, para Curicica, Irajá ou Bangu. Certamente nunca mais para a capital. Enquanto os planos políticos A e B não fazem água, Dona Baratinha e o Capetão sem rumo choram as joias perdidas. E não são quaisquer adornos.

Foram presentes de um sheik árabe para o Brasil e não para um casal de brasileiros deslumbrados que, escorado nos títulos honoríficos e temporários, se achava mais poderoso do que o novo Rei da Inglaterra. Enrascados eleitoralmente até a alma, Jair e o Partido das Lágrimas (PL) sabem que o escândalo das joias também feriu de morte as ambições políticas de Dona Baratinha. O brilho das formosuras em ouro parece ter ofuscado os achismos futuros do ex-mito e de seu entorno, os quais serão derretidos em banho maria até que seja concluído – ou iniciado de fato – o inquérito aberto para o caso dos “penduricalhos” que entraram ilegalmente no Brasil.

Os palacianos de primeira e de última viagem foram avisados da ilegalidade, mas o peso e o valor da pomposa coleção falaram mais algo. Por isso, para o casal vaidade valeu o sacrifício e a ultrapassagem das quatro linhas da legalidade. E pularam a cerca na cara dura e com uma rapidez que poderia ter sido usada para evitar a perda de 1,9 milhão de vacinas contra a Covid doadas pelos Estados Unidos. A principal ilegalidade é que as joias eram para o governo brasileiro, mas Dona Baratinha e seu bizão as queriam para seus dedos, pulsos e pescoço. Pura ganância e olho grande. Se lambuzaram e se queimaram porque não contavam com a correção de alguns zelosos auditores da Receita Federal.

A síntese da história é curta e grossa: Dona Baratinha e o imbrochável perderam o que ganharam indevidamente. Os recibos não mentem. Como vivente da época em que, na escola, a gente estudava o Cavalo de Tróia, só lamento que as novas gerações estudarão o Cavalo de Joia do Jair sem conhecer o bicho original. O fato é que pelo menos um pacote de joias ficou retido na Receita, em Guarulhos. Após oito tentativas para liberar os diamantes, suas insolências ficaram sem os anéis, os relógios, as gargantilhas, a dignidade e correm o sério risco de também perder os milhões de votos conquistados sabe-se lá como em 2018 e em 2022.

Em nome de Jesus e do próprio Bolsonaro, os aliados raiz comprometeram a vida de milhões de brasileiros e deverão ficar sem o principal discurso para uma quase falida candidatura em 2026: a honestidade a qualquer preço. Aliás, considerando que honestidade não se promete, se pratica, vale registrar que honestidade fingida é desonestidade dobrada. É o caso das joias. O potencial destrutivo das peças das arábias no capital político do mito é inexorável.

Por isso, não é demais afirmar antecipadamente que é realmente um triste e melancólico fim de carreira para quem achou que seria eternizado como mandatário. Dançou. E não importa de quantos acessórios ele disponha, pois parece que, ainda que tardiamente, o povo brasileiro, também conhecido por eleitor, optou por não tratar mais como joia quem sempre foi bijuteria. E das mais bregas. Antes tarde do que nunca.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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