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Tiririca do brejo

Eleitor deve apostar no próximo pleito em panela velha que dá comida boa

Publicado

Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Erva daninha quando nasce, deita rama pelo chão. Há quem diga que se esparrama pelo chão. Eu sei que o verso é passado de geração em geração, mas, cá com meus botões, eu tenho a minha opinião. A erva daninha é forte, mas murcha e foge do Cerrado ao primeiro safanão. Apesar da rima, nenhuma alusão ao capitão, que não merece qualquer citação originária do povão. A única semelhança com o cidadão que já se achou toalha de felpo é que, após o climão, ele está mais para esfregão e apto para limpar o terrão que, deliberadamente, infestou de escorpião.

Também conhecida por tiririca do brejo, a erva daninha em análise é igual à maioria dos políticos brasileiros. Ela cresce, floresce e se prolifera com facilidade até que um besourão comedor de batatinha se encarrega de exterminá-la. É a arte popular quem diz. Perniciosa, nociva, deletéria, indesejada e nefasta, a planta invasora tem sua parábola, na qual é chamada de joio, que é uma tentativa do mal para confundir e atrapalhar a obra de Deus. E como saber se a erva é daninha? Elas não se parecem com as mudas da plantação desejada, crescem rapidamente e demonstram baixa resistência às desditas e aos infortúnios. É o filho do pai.

De forma mais didática, adoram o tempo bom, mas fogem para Miami ao primeiro sinal de temporal. Ou seja, não sobrevivem às adversidades. É por essa razão que combatê-la significa mais do que um idealismo moral. É um requisito para a própria continuidade do Estado Democrático de Direito, cujos riscos maiores de ruptura são gerados justamente por seus representantes. Incoerência do ser humano? Claro que não, na medida em que o homem que a semeia como salvadora da pátria é o mesmo que, pelo menos em parte, se une para que elas se tornem imunes aos antídotos e cada vez mais vorazes em relação aos nutrientes do Erário. Preso, ele tenta transferir a tarefa para o primogênito.

Metáforas à parte, não adianta enxadas amoladas com cabos grossos. Como facas afiadas, os tiriricas do brejo cortam dois lados e, mesmo ceifados os caules, normalmente mantêm a raiz. Daí a dificuldade de extinção dos devoradores do futuro ainda na semente. Eis o cerne da questão. Em moda no Brasil da polarização criada para tapar o sol com a peneira, a raiz é o mal a ser extirpado. Como ela (a raiz) está morta, resta o fruto mais velho. É uma balela dizer que o mato alto ou a ruma de nativos vinculados ao falseamento profético dos espalhadores de mentiras não têm a ver com a genética.

Às vezes, a conduta, a nocividade, o despreparo e a robustez na busca pelo poder guardam semelhanças, mas está provado que nem sempre os traços são tão parecidos. Não é o caso. Detalhes tão pequenos para objetivos bem grandes. Nada impede que eles se encontrem no meio da estrada e se fechem em casulos como se fossem a mesma pessoa. A diferença é o ventre diferente. A fartura de notícias escancarou uma anomalia impensada em outras épocas. Independentemente dos votos (?) que diz ter, um militar raso que “comandou” meia dúzia de generais, almirantes, brigadeiros e coronéis – as ervas daninhas do governo -, quer transferir para o filho a continuidade do levante que só não se concretizou por causa do amadorismo dos citados oficiais e da crista de galo alfa de dois ou três estrelados.

Berço dos agrotóxicos em forma de ministros do STF, de japoneses da Federal e de milicos alcaguetes, o bicho comedor de grama verde e imune a todo tipo de ameaça entrou em cena e, com apenas uma bocada colonoscópica, tirou do brejo a tiririca que, em forma de Ramagem, Caiado, Malta, Bibo, Telhada, Caveira, Van Hattem, Trovão e Flores, ameaçava venenosamente se espalhar por todo país. Foram contidos pelo pesticida fitobolsonário da marca Xandão, a grande novidade do mercado de fungicidas e herbicidas utilizados no extermínio de pragas agrícolas e políticas. Se vingar, seu fruto preferido chegará às feiras apodrecido, cheio de larvas e impróprio para ser votado. Como há os que não se incomodam com a qualidade do produto, como xepa a sobra do bolsonarismo raiz ainda dá para o gasto. Felizmente, a maioria dos brasileiros deve optar pela panela velha, que é a que faz comida boa.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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