Tiririca do brejo
Eleitor deve apostar no próximo pleito em panela velha que dá comida boa
Publicado
em
Erva daninha quando nasce, deita rama pelo chão. Há quem diga que se esparrama pelo chão. Eu sei que o verso é passado de geração em geração, mas, cá com meus botões, eu tenho a minha opinião. A erva daninha é forte, mas murcha e foge do Cerrado ao primeiro safanão. Apesar da rima, nenhuma alusão ao capitão, que não merece qualquer citação originária do povão. A única semelhança com o cidadão que já se achou toalha de felpo é que, após o climão, ele está mais para esfregão e apto para limpar o terrão que, deliberadamente, infestou de escorpião.
Também conhecida por tiririca do brejo, a erva daninha em análise é igual à maioria dos políticos brasileiros. Ela cresce, floresce e se prolifera com facilidade até que um besourão comedor de batatinha se encarrega de exterminá-la. É a arte popular quem diz. Perniciosa, nociva, deletéria, indesejada e nefasta, a planta invasora tem sua parábola, na qual é chamada de joio, que é uma tentativa do mal para confundir e atrapalhar a obra de Deus. E como saber se a erva é daninha? Elas não se parecem com as mudas da plantação desejada, crescem rapidamente e demonstram baixa resistência às desditas e aos infortúnios. É o filho do pai.
De forma mais didática, adoram o tempo bom, mas fogem para Miami ao primeiro sinal de temporal. Ou seja, não sobrevivem às adversidades. É por essa razão que combatê-la significa mais do que um idealismo moral. É um requisito para a própria continuidade do Estado Democrático de Direito, cujos riscos maiores de ruptura são gerados justamente por seus representantes. Incoerência do ser humano? Claro que não, na medida em que o homem que a semeia como salvadora da pátria é o mesmo que, pelo menos em parte, se une para que elas se tornem imunes aos antídotos e cada vez mais vorazes em relação aos nutrientes do Erário. Preso, ele tenta transferir a tarefa para o primogênito.
Metáforas à parte, não adianta enxadas amoladas com cabos grossos. Como facas afiadas, os tiriricas do brejo cortam dois lados e, mesmo ceifados os caules, normalmente mantêm a raiz. Daí a dificuldade de extinção dos devoradores do futuro ainda na semente. Eis o cerne da questão. Em moda no Brasil da polarização criada para tapar o sol com a peneira, a raiz é o mal a ser extirpado. Como ela (a raiz) está morta, resta o fruto mais velho. É uma balela dizer que o mato alto ou a ruma de nativos vinculados ao falseamento profético dos espalhadores de mentiras não têm a ver com a genética.
Às vezes, a conduta, a nocividade, o despreparo e a robustez na busca pelo poder guardam semelhanças, mas está provado que nem sempre os traços são tão parecidos. Não é o caso. Detalhes tão pequenos para objetivos bem grandes. Nada impede que eles se encontrem no meio da estrada e se fechem em casulos como se fossem a mesma pessoa. A diferença é o ventre diferente. A fartura de notícias escancarou uma anomalia impensada em outras épocas. Independentemente dos votos (?) que diz ter, um militar raso que “comandou” meia dúzia de generais, almirantes, brigadeiros e coronéis – as ervas daninhas do governo -, quer transferir para o filho a continuidade do levante que só não se concretizou por causa do amadorismo dos citados oficiais e da crista de galo alfa de dois ou três estrelados.
Berço dos agrotóxicos em forma de ministros do STF, de japoneses da Federal e de milicos alcaguetes, o bicho comedor de grama verde e imune a todo tipo de ameaça entrou em cena e, com apenas uma bocada colonoscópica, tirou do brejo a tiririca que, em forma de Ramagem, Caiado, Malta, Bibo, Telhada, Caveira, Van Hattem, Trovão e Flores, ameaçava venenosamente se espalhar por todo país. Foram contidos pelo pesticida fitobolsonário da marca Xandão, a grande novidade do mercado de fungicidas e herbicidas utilizados no extermínio de pragas agrícolas e políticas. Se vingar, seu fruto preferido chegará às feiras apodrecido, cheio de larvas e impróprio para ser votado. Como há os que não se incomodam com a qualidade do produto, como xepa a sobra do bolsonarismo raiz ainda dá para o gasto. Felizmente, a maioria dos brasileiros deve optar pela panela velha, que é a que faz comida boa.
………….
Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras