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Sem temer a morte

Eles estão ficando velhinhos e nós precisamos estar atentos e fortes

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@donairene13 - Foto de Arquivo

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Tom Zé, Jorge Ben Jor, Ney Matogrosso, Chico Buarque e Nana Caymmi. Todos octogenários. Todos gigantes. E eu, aqui, como tantas outras pessoas, tentando aprender com eles a beleza e a dor de atravessar os anos com dignidade, com poesia e, claro, com música.

Eles não apenas viveram a história: eles a entoaram, verso por verso, como se o Brasil coubesse dentro de uma canção. E, de certo modo, coube.

Hoje, alguns ainda sobem aos palcos com coragem e brilho. Outros se recolheram, mais frágeis, mais silenciosos. Mas a presença deles não diminuiu: apenas mudou de lugar. Está no ar. Está na memória coletiva. Está dentro de mim.

Milton já não canta como antes, e isso me comove. Mas basta ouvir “Cais” ou “Canção da América” e quase sinto sua alma soprando sobre a minha. Paulinho da Viola já não aparece tanto, mas sua elegância, sua voz doce e calma continuam pairando sobre cada samba que escuto.

Nana Caymmi me desmonta. Sua voz tem o peso das perdas, das esperas, dos segredos guardados. Em “Resposta ao tempo”, ela parece falar por todos nós, que sentimos o tempo como um vento úmido nos ossos. Ouço essa canção e penso nos meus próprios dias passando, e penso neles — os artistas — e no quanto merecem nosso cuidado, nosso afeto, nossa atenção.

Caetano e Gil, mesmo com os olhos mais lentos e os gestos mais leves, ainda ensinam. Chico, com sua escrita afiada, ainda me surpreende como na primeira vez. Tom Zé segue instigando, Ney Matogrosso continua provocando tudo o que é previsível e dançando alegremente desafiando os anos, assim como Jorge Ben Jor, que continua dançando como quem nunca envelhece por dentro.

Eles estão ficando velhinhos. E dói ver isso. Porque parte de mim acredita, ou quer acreditar, que esses artistas são eternos também no corpo, não só na obra.
Mas a verdade é que o tempo, mesmo quando gentil, pesa. E eu observo, com ternura, com cuidado, com lamento e com gratidão.

Eles me ensinaram a amar o Brasil — ou, ao menos, a amar a possibilidade de um Brasil mais sensível, mais inteligente, mais justo.

E quando tudo silencia, ainda escuto:

“É preciso estar atento e forte…”
“Maria, Maria é um dom…”
“Apesar de você…”
“Resposta ao tempo…”
“Foi um rio que passou em minha vida…”

Eu escuto.
Eu guardo.
Eu me comovo.
E agradeço.

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