Safra hedionda
Em 2026, é camburão ou caminho de casa da marginália do Congresso
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Desde sua criação, em 1824, já sob o sistema bicameral, o Congresso Nacional experimentou altos e baixos. Getúlio Vargas o dissolveu por decreto duas vezes: após a Revolução de 1930 e, mais drasticamente, em 1937, com o golpe do Estado Novo, que suprimiu o Legislativo por nove anos. Certamente o mais célebre deles ocorreu em 13 de dezembro de 1968, quando, por meio do Ato Institucional no. 5, o governo do general Artur da Costa e Silva decretou a perda de mandatos de deputados e senadores. No mesmo ato, Costa e Silva fechou o Parlamento, permitiu a suspensão dos direitos e garantias constitucionais, além de autorizar a intervenção federal nos governos estaduais e municipais.
Mais recentemente, o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello foi uma prova de choque para a democracia. O de Dilma Rousseff foi bem mais tranquilo, pois, antes mesmo que ela saísse, estava tudo combinado entre os caciques do Congresso e o então vice, Michel Temer. A pretexto de alcançar o poder, o pau quebrava, os mais espertos dominavam a Câmara e o Senado e, de vez em sempre, o governo era obrigado a negociar determinadas propostas. Os líderes tinham peso, voz e não admitiam ser moleques de recado, tampouco vassalos de presidentes ou de ex-presidentes. Tudo mudou depois do advento da maldita bolsonarização, período da consolidação da safra hedionda de parlamentares.
Hoje, muitos mais do que a natural divergência política, é o óbvio trabalho da oposição contra o chefe do Executivo. A ordem superior é dominar o que puderem. É o tal emparedamento, necessário, segundo os lambe-botas, para manter acesa a tensão, consequentemente a estrela do clã Bolsonaro, mesmo que à custa do sacrifício social, político e econômico da sociedade. Por determinação do presidiário Jair Messias, os líderes dos partidos aliados têm a obrigação de negar todo tipo de projeto que possa beneficiar Luiz Inácio Lula da Silva.
Objetivo maior de pelo menos dois terços dos brasileiros e das brasileiras, a democracia é apenas um detalhe para o outro terço, representado na Câmara e no Senado pelos pulhas denominados conservadores. Ainda bem que, sempre que há necessidade, o povo sai às ruas para informar aos congressistas que eles têm limites, ou seja, não podem tudo. E jamais poderão. Associado ao deputado Hugo Motta, o senador Davi Alcolumbre lavou as mãos e assistiu de camarote seus pares e o gagá Esperidião Amin aprovando redução de pena para golpistas que atentaram contra o Estado Democrático de Direito. Depois reclamam quando Alexandre de Moraes enquadra a marginália no Congresso. Aguardemos os próximos capítulos.
Como donos do mundo, Alcolumbre e Motta convocaram a tropa do mal e decidiram reencarnar o espírito hediondo e maldoso do ex-deputado federal Eduardo Cunha, o qual vendia e não entregava a mãe pelo controle absoluto do Orçamento da União. Foi Cunha quem inaugurou o programa topa tudo por um punhado de emendas parlamentares, notadamente as impositivas, isto é, as de execução obrigatória. Difícil imaginar até onde a sanha ideológica dos atuais congressistas levará o Parlamento. Certamente ao fundo do poço. Por enquanto, o Legislativo de Alcolumbre e de Motta vem cumprindo a profecia de Ulysses Guimarães, transformando-se no pior Congresso da história republicana do país.
Fora das quatro linhas legislativas, a bandidagem bolsonarista tenta a todo custo se apossar da nação. Por exemplo, como idiotas assumidos, os apoiadores de Bolsonaro querem boicotar o SBT e seus patrocinadores. Tudo porque, a convite da família Santos, o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes participaram do lançamento do SBT News. Meus caros baba-ovos podres, cuidem de suas casas, de suas mulheres e de suas filhas, sob pena de perdê-las para um esquerdista mais atento. Quanto a Bolsonaro, se estão com pena dele, peçam licença a Xandão e, se estiverem no cio, talvez consigam pegar uma barriga com o mito. E Lula? Engulam o choro, pois vocês não darão nem para o café em 2026. Dosimetria e anistia nem pelo cacho. Sobre vocês, os que não saírem de camburão terão de procurar o caminho de casa, meu irmão.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais