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Embarquem no DC-3, porque é hora de ver Brasília antes da cidade abrir as portas

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José Escarlate

Funcionário de carreira do Banco do Brasil, Enos Sadock de Sá Motta era o presidente do IAPB. Filho de um almirante, freqüentava a minha casa junto com a mulher, Iracema, amiga de minha mãe.

Uma quinta-feira à noite ele nos convidou para uma esticada a Brasília para ver as obras. Fretou um avião da Real Aerovias, um Douglas DC-3, com lugar para todo mundo. Lembrou as dificuldades que iríamos enfrentar, como falta de conforto na hospedagem, a poeirada infernal da cidade e a longa duração do vôo.

Sadock ligava lá de casa “convidando” membros do seu staff no IAPB. Nessa convocação dizia com voz grave: “Meu filho, trata-se de um convite irrecusável, sob pena de demissão” – enfatizava rindo.

Em uma hora de ligações, o avião estava lotado. Havia curiosidade em conhecer o estágio do mirabolante plano do presidente JK de dar ao Brasil uma nova capital, no meio do nada, e com data marcada para inauguração.

E lá fui eu conhecer Brasília, sem ao menos desconfiar do quanto ela seria importante na minha vida e no meu futuro. Solteiro, para mim era uma verdadeira aventura. Via o centro-oeste uma região esquecida, pouco desbravada. Por isso, fascinante. Eu já havia estado em Anápolis, em 1954, junto com o repórter Vinícius Lima, enviados pelo jornal O Popular para cobrir o assassinato de dois prefeitos da cidade. Mataram o titular e, logo após a posse, o sucessor. Os crimes tinham conotação política.

Pelo esquema traçado, ao Instituto dos Bancários caberia a construção de 22 blocos de apartamentos, sendo 11 na 108 Sul, e possivelmente 11 na 308 Sul. Cada Super Quadra de Brasília foi concebida pelo urbanista Lúcio Costa com 11 blocos de apartamentos, mas em algumas, essa exigência não obedeceu ao figurino estabelecido.

Na SQS 105 ficou faltando erguer um bloco de apartamentos, justamente o bloco A, que foi resgatado do esquecimento anos mais tarde, na gestão do então presidente da Codebrás – Coordenação do Desenvolvimento de Brasília -, meu grande amigo Amantino da Silva Marreco.

Também as Super Quadras 207 e 307 foram erguidas nos anos 70, na totalidade dos seus 22 blocos. Talvez falta de dinheiro ou, quem sabe, puro esquecimento…

Ao IPASE, que era tido como o rei dos institutos de previdência, por englobar todo o funcionalismo federal, a carga era mais pesada, cabendo a ele a construção de 11 blocos de apartamentos em cada uma das três Super-Quadras da Asa Sul: na 206, 207 e 208.

As SuperQuadras Sul 107 e 307 seriam de responsabilidade do IAPETEC, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas, cabendo ao IAPC, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários a construção dos blocos das SuperQuadras 106 e 306 Sul.

Finalmente, as SuperQuadras 105 e 305 Sul seriam construídas pelo IAPI, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, cabendo ao IAPM, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos a construção da SuperQuadra Sul 205.

Era 1957, os institutos de previdência e as construtoras montavam seus acampamentos, como os do IPASE e do IAPB, os mais adiantados.

Os prédios eram todos residenciais, com o mesmo gabarito, de seis andares, e disposições variadas de dois, três, quatro e até cinco quartos. Os edifícios eram dotados de pilotis – que barateava a obra – e elevadores.

O Instituto dos Industriários recebeu também a incumbência de construir, na SuperQuadra 409 Sul, apartamentos mais econômicos, destinados a servidores públicos de nível mais humilde. Os prédios de apartamentos eram de três andares, sem pilotis e sem elevador. Tudo precisava ser aprovado pelo escritório de Oscar Niemeyer.

PV

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