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Irmãs quase idênticas

Enquanto uma nasceu para sorrir, outra para chorar

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Irene Araújo

Marineide e Marinete, gêmeas univitelinas, eram iguais em quase tudo. Quase tudo porque a primeira parecia ter nascido com o bumbum virado para a Lua, enquanto Marinete, que teria sido a segunda a sair da barriga da mãe exatos 13 minutos após, certamente carregava todo o peso do mundo nas costas. E, por conta dessas incongruências de sinas, a caçula começou a acreditar que a sorte só lhe sorriria caso a irmã morresse.

Não que Marinete desejasse qualquer mal à parenta. No entanto, cansada de viver tantos martírios, uma sementinha do mal começou a germinar na mente da azarada. E se, por acaso, Marineide tropeçasse sem querer e batesse a cabeça na quina da mesa da sala? Que a morte fosse instantânea, já que não seria Marinete a querer que a amada irmã sofresse.

Ciente de que Marineide costumava sair do quarto descalça, pois adorava sentir o geladinho da cerâmica, Marinete fez questão de passar pano úmido no chão. Mas não pense você que a consciência bateu, mesmo porque era o seu dia de fazer faxina na casa.

— Ai, que chão gostoso!

Era a primogênita, braços erguidos e sorriso contagiante. Marinete, rodo na mão, observou a irmã, como se estivesse aguardando por um desfecho fatal. Que nada! A sortuda passou radiante, foi até a cozinha, pegou um copo de leite e retornou que nem bailarina para o quarto.

Marinete ficou furiosa com a cena e, talvez por isso, tenha perdido o equilíbrio e caiu de bumbum no chão. Ui! Doeu! Entretanto, o que ficou mesmo ferido foi o orgulho.

A partir daquele momento, a caçula resolveu decretar guerra. Todavia, não se deu ao trabalho de avisar a irmã sobre sua decisão. Por que dar armas à inimiga? O ataque seria na encolha.

E a mulher tentou, tentou, tentou… Ih, tentou de tudo! Até colocar veneno de rato num pedaço de bolo. O problema é que, na hora de entregá-lo para a irmã, Marinete se confundiu e acabou comendo o pedaço envenenado. Por sorte, percebeu o equívoco assim que engoliu o primeiro naco e correu desesperada para o banheiro. Vomitou até os bofes, mas não morreu.

Marineide não aparentou desconfiança, mas parece que aquela luzinha de alerta foi acesa. A partir daí, passou a observar melhor as atitudes da irmã mais nova, e, não tardou, não teve a menor dúvida de que ela estava tramando algo. E, na primeira oportunidade, deu o troco.

Aconteceu alguns dias após o caso do bolo. A campainha tocou, e lá foi a Marineide atender. Flores. Aliás, um buquê caprichado de rosas vermelhas, cuja mensagem geralmente vem carregada de amor, paixão, sedução e desejo. Que felicidade! Entretanto, o melhor mesmo foi quando Marineide, buquê nas mãos, passou pela irmã e disparou:

— Tá com inveja, bebê? Morda as suas costas!

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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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