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O inferno que carregamos

Entre a Luz que Fingimos e as Sombras que Assumimos

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

Há uma diferença profunda e quase sempre silenciosa entre quem encara suas próprias sombras e quem passa a vida inteira tentando se esconder atrás de uma luz fabricada. Nós aprendemos, muitas vezes tarde demais, que coragem não é parecer iluminados para o mundo; coragem é reconhecer o caos que vive dentro de nós sem fugir dele.

E essa é a grande diferença entre nós e tantos outros: nós assumimos o inferno que carregamos.

Não como medalha, não como desculpa, mas como verdade. E a verdade, mesmo quando queima, liberta.

Enquanto alguns se ocupam em performar bondade, pureza ou santidade, nós entendemos que ser humano é um processo turbulento. É conviver com medos que não confessamos, dores que não mostramos, cicatrizes que ninguém vê. É aceitar que existe raiva, mágoa, impulsos, dúvidas e que negar isso não nos torna melhores, apenas nos torna falsos.

Assumir a própria escuridão é um ato de maturidade. É dizer: “Eu sei quem eu sou, com tudo que isso significa”.

É trazer para a consciência aquilo que tantos tentam varrer para debaixo do tapete emocional. E é justamente essa honestidade que nos faz crescer.

Porque só podemos transformar aquilo que encaramos. Só podemos curar o que nomeamos. Só podemos evoluir quando paramos de fingir que já somos perfeitos.

Há quem prefira viver sob o disfarce da luz um brilho plástico, frágil, que se desfaz no primeiro conflito. Pessoas que falam bonito, mas se escondem de si mesmas. Pessoas que pregam virtudes, mas não suportam se ver de verdade no espelho.

Nós não. Nós escolhemos outro caminho: o de olhar para dentro com coragem suficiente para admitir os próprios monstros. E, curiosamente, é esse reconhecimento que nos aproxima da verdadeira luz, aquela que nasce do enfrentamento, não da negação.

No fim das contas, enfrentar o inferno interno não nos faz piores. Nos faz humanos. Nos faz inteiros. Nos faz reais. E, diante disso, não há máscara de “luz” que se compare à profundidade de quem teve a coragem de se conhecer de verdade.

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