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As duas caras da política

Entre gatos e ratos, poucos se salvam no Congresso

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Mathuzalém Júnior - Foto Antônio Cruz/ABr

Pouco se esperava do atual Congresso Nacional, cheio de ratos metidos a gatos e apinhado de patriotas golpistas. O que a maioria não acreditava é que seria um dos piores da história do Legislativo brasileiro. Como dizia o ex-presidente Jânio Quadros, guardadas as devidas proporções, metade dele é incapaz e a outra metade é capaz de tudo. Igualá-lo à Cosa Nostra é um acinte com a Máfia, que merece adjetivos menos jocosos. Definitivamente, a política não é suja, sujo são alguns dos agentes políticos conduzidos aos cargos públicos por meio do voto cidadão. A tentativa de reciclar a política oferece uma única condição: reciclar o pensamento cidadão. No resumo da ópera, a política suja nos deixa sem esperanças para o futuro.

Portanto, esquerda, direita, centro ou qualquer coisa que o valha, é chegada a hora de nos conscientizarmos, sob pena de, em situação de penúria socioeconômica, assistirmos à bancarrota do país. Como jornalista, cobri o Congresso Nacional por bons pares de anos. Não tenho lembrança de acompanhar tamanha balbúrdia como a de nossos dias. O cenário atual me dá a certeza de que políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos por conta do mesmo motivo. Tudo por causa do povo que, lamentavelmente, prefere a escravidão. E esse tipo de gente é por demais perigoso tentar libertá-la.

A tese que define o Congresso eleito em 2022, ainda na esteira do restinho de sucesso de Jair Messias, é de Nicolau Maquiavel, para quem a política tem pelo menos duas caras: “a que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder”. Os representantes da segunda cara não têm qualquer preocupação em dividir os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos. Apesar de não aceitarem o rótulo de “Maria vai com as outras”, os parlamentares do time dos “patriotas” agem exatamente dessa forma. Ou se vota contra Lula e contra o país ou é comunista.

Não sabem o que significa o termo comunista, mas adoram aplicá-lo àqueles que, prazerosamente, sentem nojo do bolsonarismo. O tempo está passando rápido demais. Os políticos servis, mal-educados, grosseiros, desrespeitosos e violentos são a prova de que o Brasil precisa ser passado a limpo com urgência. Antes de mudar, é necessária uma reflexão sobre a súcia que caninamente atende a Jair Bolsonaro. O grupelho tem de ser estudado, sob pena de continuarmos com fazedores de leis pensando e agindo como um bando de meninos bobalhões tentando se auto afirmar junto às meninas. Regra de bolsonaristas, o vale tudo para derrubar Luiz Inácio foi uma exceção quando Jair era o presidente.

É legítimo fazer oposição. Entretanto, no governo passado, nunca ouvi um deputado ou senador petista subir à tribuna de uma das casas do Parlamento para vaiar ou adjetivar o Bozo de ladrão, miliciano ou coisas do gênero. Na época, golpista era uma referência positiva. Enfim, a política e os políticos do Brasil estão doentes. A polarização e a grosseria defendida pelos antidemocratas se transformaram em baderna. Os plenários da Câmara, do Senado e, unidos, do Congresso, mais parecem rinhas de galo. Bem de perto, lembram uma casa de lenocínio, na qual as meninas de vida fácil lutam por espaço e pelos endinheirados que frequentam esses centros culturais, entre eles, uma ruma de políticos.

Onde está o Conselho de Ética dessas casas? Um arremedo de deputado chama o colega de ladrão, de bandido e fica por isso mesmo. O outro agride e não é repreendido. Virou bagunça, um reduto de saliência comandado por soldado de puliça. Com todo respeito às prostitutas, a sociedade estarrecida compara o Parlamento a uma das avenidas centrais de qualquer cidade brasileira, nas quais as excelências do sexo não respeitam as divergências e brigam por uma noitada de prazer e algum trocado da viúva ao amanhecer. Sem eira e nem beira, chamam as coirmãs de prostitutas, mas xingam, esperneiam e agridem quando seus passados lhes são jogados nas fuças. Ladrão por ladrão, que atirem a primeira pedra.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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