Castelinho de areia
Entre rancores e lembranças, homem tem devaneios inimagináveis
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Eles estavam se separando, depois de quase oito anos juntos.
Não se encontravam, seria doloroso demais e o rancor viria à tona, com acusações recíprocas. Tampouco se falavam ao telefone, os efeitos seriam quase os mesmos. Mas mandavam mensagens um para o outro, ambos escreviam bem e (ainda) se amavam. Mensagens que dissecavam a relação, a vida toda que poderia ter sido e que não foi.
No fim de uma dessas mensagens, ele escreveu palavras tristes que, soube-se depois, a fizeram chorar:
“Pense em mim como um castelinho de areia que, não podendo crescer, preferiu se destruir.”
A mensagem foi mandada por e-mail. Em seguida, ele afastou-se do computador.
E foi imediatamente transportado para uma praia. Seu corpo começou a transformar-se. Pés e pernas tornaram-se muralhas de um castelo, os braços, ameias, o membro, a torre de menagem.
E as ondas, inexoráveis, começaram a lamber-lhe os pés.