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Castelinho de areia

Entre rancores e lembranças, homem tem devaneios inimagináveis

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Francisco Filipino

Eles estavam se separando, depois de quase oito anos juntos.

Não se encontravam, seria doloroso demais e o rancor viria à tona, com acusações recíprocas. Tampouco se falavam ao telefone, os efeitos seriam quase os mesmos. Mas mandavam mensagens um para o outro, ambos escreviam bem e (ainda) se amavam. Mensagens que dissecavam a relação, a vida toda que poderia ter sido e que não foi.

No fim de uma dessas mensagens, ele escreveu palavras tristes que, soube-se depois, a fizeram chorar:

“Pense em mim como um castelinho de areia que, não podendo crescer, preferiu se destruir.”

A mensagem foi mandada por e-mail. Em seguida, ele afastou-se do computador.

E foi imediatamente transportado para uma praia. Seu corpo começou a transformar-se. Pés e pernas tornaram-se muralhas de um castelo, os braços, ameias, o membro, a torre de menagem.

E as ondas, inexoráveis, começaram a lamber-lhe os pés.

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