Início do fim
Entreguismo, porte de arma e uma passeata pela paz
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No Brasil de hoje, ainda há quem ande de mãos dadas com os EUA de Trump? Via das dúvidas, cabe alerta: é preciso recobrar o amor e o respeito à vida. Torna-se imprescindível rechaçar os líderes genocidas, seus cúmplices, apoiadores e simpatizantes.
Tal empreitada exaustiva sugere ampla reflexão. Seguindo o raciocínio dedutivo, isto é, começando pelo macro, pretendo esboçar a provocação de discussão do tema à luz do modelo econômico, quer dizer, da cultura capitalista que implica em belicosidade e consequente desprezo pela vida do outro.
Escrevo com imenso pesar, mas me consolo com o dever sobrevivente de analisar o que me couber dentro de minha jurisdição afetiva e o que puder a partir de minhas possibilidades. Gosto dos temas focados na literatura e dela abstraio uma questão pertinente: quais os efeitos das representações da realidade sobre a realidade compactuada e sobre as vivências pessoais?
Com a recente investida do governo estadunidense contra a soberania brasileira, abre-se um amplo debate que não se esgota aqui (e nem se esgotará tão cedo em lugar algum, infelizmente). Trata-se da cultura da violência e da naturalização do uso de armas pela população civil.
Para ilustrar, menciono um documentário cuja qualidade é a de suscitar polêmica:
‒ Tiros em Columbine (Michael Moore, EUA, Canadá) foi o primeiro documentário a ser selecionado para a mostra de Cannes em 46 anos. Na Mostra SP de Cinema, foi intitulado Jogando Boliche em Columbine. Apresenta os efeitos da fascinação dos americanos pela cultura bélica. Aborda o fato de que onze mil pessoas são vítimas de armas de fogo, anualmente, nos Estados Unidos. A maior parte dos moradores de pequenas cidades (tal como Littleton) tem arma em casa. Dois adolescentes pegaram as armas dos pais e mataram 14 estudantes e um professor no refeitório do colégio Columbine (em Littleton). Mostra também uma visita ao presidente da Associação Americana do Rifle (ator Charlton Heston), e um Banco (e empresa comerciante de armas) que dava arma de brinde para quem se tornasse cliente.
O filme é, portanto, uma crítica à indústria de armamento e à cultura da belicosidade. E, consequentemente, ao capitalismo selvagem que protege apenas os lucros e desdenha da pessoa humana. Tal documentário não dá conta de provocar efeitos em processos internos como as grandes obras artísticas conseguem eliciar. Nesse sentido lembro Guernica (PICASSO, 1937) que se ergue contra a violência.
Para que esta escrita não se torne uma mortificação para mim, por não dar conta da ampla demanda de análise, vou em busca do possível. Percebo que tenho que dar conta, do sentimento de raiva e procurar, na indignação, o avesso da raiva.
Opto, então, pelo raciocínio indutivo, parto do micro, isto é, me proponho a elaborar algo existencialmente útil a quem posso tocar com as mãos a exemplo de:
‒ uma amiga que não tem o hábito de assistir filmes;
‒ um especialista em cinema que desdenha da produção de Michael Moore;
‒ uma pessoa violenta/dócil daquelas que gostam de dar tapa com luva de pelica, como alguém que se dirige a outra pessoa, na sua frente, e forma uma dupla de opinião contra a sua, mas sem lhe dar o direito de participar da conversa.
Em decorrência desse movimento interno e à luz do meu projeto de vida (que não tem por meta fortalecer sectarismos), elaborei o seguinte exercício de imaginação dirigida:
“Em posição de relaxamento, respire profundamente (sinta o movimento da respiração no abdômen). Pense em uma atitude que provoca que o outro se sinta rejeitado. Imagine uma tela em branco. Agora projete nela ato para gerar no outro o sentimento de aceitação. Compare como você se sente ao provocar rejeição e ao promover aceitação. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro se sinta desdenhado. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro se sinta valorizado. Compare como você se sente ao vitimar o outro com o seu desdém e ao oferecer valorização para o outro. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz o outro se sentir ignorado. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro perceba laços de amizade. Compare como você se sente ao mostrar para o outro que o ignora e ao oferecer amizade. Imagine nova tela em branco e pense em uma atitude que faz com que o outro se sinta isolado. Imagine nova tela em branco
Concretize o gesto no máximo 24 horas após a mentalização (que tal uma passeata a favor do desarmamento civil?).