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Após eleições

Erdogan poderá consolidar postura dura na política turca

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Pedro Nascimento, Edição

Os poderes reforçados de que o presidente Recep Tayyip Erdogan desfrutará depois de sua vitória nas eleições na Turquia poderão consolidar sua linha dura política, apontam especialistas.

Neste novo mandato começa a valer a reforma constitucional que reforça os poderes presidenciais e que arroga à figura presidencial todos os poderes executivos, dando a possibilidade de governar por decreto e assim evitar o Parlamento.

“Com esta nova legitimidade política, Erdogan vai estabelecer o regime presidencial e iniciar uma política para afirmar-se nacional e internacionalmente”, estima a cientista política do CERI/Sciences Po Jana Jabbour.

A eleição de domingo foi realizada pouco mais de um ano após o referendo em que os eleitores aprovaram a reforma promovida por Erdogan. Nos últimos dois anos, Erdogan esteve quase permanentemente em campanha, primeiro pela reforma constitucional e, depois, para as eleições originalmente previstas para novembro de 2019.

Durante este período, o presidente estabeleceu uma política implacável contra a oposição, com expurgos em massa após o fracassado golpe de Estado de julho de 2016.

Vitorioso, Erdogan poderia ser tentado a uma política de distensão para apaziguar uma sociedade muito dividida, mas essa abertura pode entrar em conflito com os ultranacionalistas do MHP, partidários de uma linha dura, particularmente sobre a questão curda.

De acordo com os resultados provisórios das legislaturas, o AKP de Erdogan obteve 259 assentos, de um total de 600 no Parlamento, de modo que não tem maioria sem seu aliado MHP, que surpreendeu ao obter 49 assentos.

Distensão com o Ocidente – Para manter uma maioria, Erdogan não pode desagradar o MHP. Desta forma, “será difícil (…) melhorar a liberdade de expressão ou relaxar sua posição sobre os curdos”, estima Asli Aydintasbas, especialista do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

“A questão curda será tratada com mão de ferro e pode haver novas operações contra os curdos na Síria e no Iraque”, aponta, pessimista, Jabbour.

Os expurgos terão “uma nova dimensão”, segundo ela. “O sistema judicial será controlado por Erdogan, as liberdades civis e individuais serão limitadas”, acrescentou.

Durante a campanha, pressionado pelas promessas de seus rivais, Erdogan prometeu, em caso de vitória, levantar o estado de emergência vigente desde o golpe. “Mas só mencionou isso uma vez”, diz Aydintasba, que duvida que ele cumpra sua promessa.

Internacionalmente, o tom tornou-se claramente mais suave no início do ano. Erdogan mostrou sinais de insatisfação com a União Europeia (UE).

“Erdogan tem o poder de normalizar (suas relações com o Ocidente), se quiser”, acredita Aydintasbas.

“Acredito que haverá uma tendência por parte dos governos ocidentais de dar ele um novo crédito para reconstruir as relações com a Turquia, agora que parece ser todo-poderoso”, acrescentou.

Mas nessa hipótese, a aliança com o MHP poderia complicar a situação. A aliança com o MHP “criará problemas com os Estados Unidos” sobre as milícias curdas sírias, aliadas de Washington na Síria, mas consideradas como terroristas por Ancara, explica Soner Cagaptay, pesquisador do Washington Institute of Near East Policy.

“Erdogan terá menos margem de manobra”,aponta.

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