Perda de tempo
Escola da vida ensina que um passo de cada vez é bem melhor que correr
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Chegando ao trabalho, flagrei-me acionando insistentemente o botão que acelera o fechamento da porta do elevador. Queria ganhar algum segundo para… não fazer nada com ele.
Já no escritório, elaborando um recurso processual, com o prazo quase vencendo, de repente o computador ficou inerte por meio minuto, o suficiente para me irritar e desconcentrar.
Há poucos anos, advogados faziam petições nas velhas Olivetti, durante horas, sem qualquer recurso eletrônico, tampouco o indispensável delete, e tudo parecia correr – ou andar – bem.
Hoje somos escravos da pressa. Parece haver um pacto mundial pela correria. E adoecemos com a impaciência e a ansiedade. Observe a tensão na espera do semáforo. O motorista de trás, com o dedo apontado para a buzina, está só esperando o seu segundo – não mais o minuto – de bobeira.
Até os leitores têm exigido publicações enxutas. Não há mais tempo – ou saco – para a boa e longa leitura. Calma, não vou me alongar. Rendido à exigência do mercado, tento escrever textos curtos, cortando palavras.
O jornalista canadense Carl Honoré defende em seu livro “Devagar” um “movimento mundial pela lerdeza”, incentivando os apressadinhos a maneirar no dia a dia, com simples e eficazes mudanças na rotina.
Recomenda-se, por exemplo, não agir como um Senna nas ruas, comer devagar e sempre à mesa, não no sofá, e trocar os filmes de ação por uma leitura. Aquele amigo lembrado jocosamente pela lentidão é quem está certo.
Vai ajudar também se desconectar um pouco do celular, que nos faz correr, e acessar menos redes sociais, essa praga que deixa a gente pensando que todo mundo é lindo, feliz e rico, menos nós.
Os mais experientes, cabelos embranquecidos, ou já sem eles, dosam melhor o ritmo do cotidiano. Não se seduzem facilmente pelos apelos tecnológicos e as ilusões digitais. Sabem que a pressa é perda de tempo.
Foram diplomados na escola da vida.
Se você ainda estiver por aí, reflita: quanto mais buscamos ganhar tempo, mais o perdemos.
Até a próxima crônica, se te sobrar uma folguinha…
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