Maranhão
Esgoto despejado na Praia da Ponta d’Areia causa mau cheiro e irrita moradores
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O cenário paradisíaco da Praia da Ponta d’Areia, um dos cartões-postais mais conhecidos de São Luís, tem sido ofuscado por um problema persistente e malcheiroso: o despejo irregular de esgoto nas águas e na areia da orla. O que deveria ser um espaço de lazer e contemplação transformou-se em foco de mau cheiro, poluição e indignação entre os moradores e frequentadores da região.
Nos últimos meses, quem passa pela área percebe facilmente o desconforto. O odor forte vindo de canais de drenagem e o aspecto turvo da água denunciam o que, para os moradores, já é um velho conhecido: o esgoto corre livremente até o mar.
“Não dá mais pra ficar aqui depois das quatro da tarde. O vento traz o cheiro do esgoto direto pra dentro das casas”, reclama a comerciante Maria das Dores Silva, que mantém um pequeno quiosque na avenida principal da Ponta d’Areia há mais de dez anos.
Ela conta que o movimento de clientes caiu quase pela metade desde que o problema se agravou. “Quem vai querer tomar uma água de coco sentindo cheiro de fossa?”, questiona.
Assim como Maria, dezenas de moradores relatam prejuízos e perda de qualidade de vida. O problema se repete a cada período chuvoso, quando a drenagem urbana mistura águas pluviais com o esgoto doméstico que escapa de tubulações danificadas.
Especialistas alertam que o despejo de esgoto “in natura” nas praias representa grave risco à saúde pública. A presença de coliformes fecais e outros microrganismos patogênicos pode causar infecções de pele, gastrite, conjuntivite e até doenças mais sérias.
Além dos riscos diretos à população, o impacto ambiental é devastador. A contaminação compromete os ecossistemas costeiros, destrói a vida marinha e acelera o processo de erosão da faixa de areia. Manguezais próximos, que funcionam como berçários naturais, também sofrem com o despejo contínuo de resíduos.
A Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) já foi multada e condenada judicialmente por lançamentos irregulares de esgoto na região da Ponta d’Areia. Apesar disso, os moradores afirmam que as medidas adotadas são paliativas e que o problema volta a se repetir meses depois.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) monitora semanalmente a balneabilidade das praias da Grande São Luís. Em seus relatórios, a Ponta d’Areia aparece com frequência na lista de locais impróprios para banho, principalmente após o período de chuvas — quando o sistema de drenagem se sobrecarrega.
Em nota recente, a SEMA informou que “mantém fiscalização constante e cobra das concessionárias e empreendimentos o cumprimento das normas ambientais”. No entanto, os dados oficiais mostram que pouco mudou: trechos da praia continuam com índices de contaminação acima do permitido.
Engenheiros e ambientalistas apontam uma combinação de fatores para a persistência do problema:
•rede de esgoto antiga e insuficiente;
•ligações clandestinas que lançam efluentes diretamente na drenagem pluvial;
•crescimento desordenado da orla, sem infraestrutura sanitária adequada;
•falta de fiscalização efetiva e punições mais severas.
Segundo levantamento da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), menos de 15% do esgoto produzido na capital é tratado antes de ser lançado no meio ambiente. O restante acaba indo parar nos rios, manguezais e, inevitavelmente, nas praias.
Para muitos, o esgoto da Ponta d’Areia é o símbolo de um problema maior: o abandono do saneamento básico em São Luís. A cidade cresceu voltada para o mar, mas negligenciou suas bases ambientais. A cada nova denúncia, as promessas de solução se renovam, mas o cheiro persiste — lembrando que a natureza cobra caro pelos erros humanos.
Enquanto as autoridades trocam notas e relatórios, os moradores continuam a conviver com o desconforto. “A gente ama essa praia, mas parece que ninguém mais liga pra ela”, lamenta o morador João Victor, apontando para o mar escurecido pelo esgoto.
A recuperação da Ponta d’Areia exige mais que promessas: requer investimentos reais em infraestrutura sanitária, fiscalização rigorosa e responsabilização dos poluidores. Afinal, preservar as praias de São Luís não é apenas questão de estética ou turismo — é questão de saúde pública, dignidade e futuro sustentável.