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Ovo da serpente

Esperança no futuro do Brasil empurra velas do barco da paz

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Servir ou se servir? Eis a questão! Pensando exclusivamente no Brasil, a primeira coisa a se pensar é o que queremos para o futuro da nação. Precisamos de alguém que nos sirva e nos ajude a sair do buraco negro em que nos meteram. Tem de ser alguém que repense o país, reuse seu povo e reutilize suas forças em benefício da sociedade, principalmente dos mais sofridos. Precisamos! E muito. No entanto, não é o que deseja aquele grupo que ama odiar os que gritam por liberdade. Triste dizer, mas essa turma trabalhou para eleger quem os ajudaria a se servir da pátria. Daí a razão de tanta balbúrdia contra quem ganhou apertado, mas ganhou de acordo com as normas vigentes, ou seja, democraticamente. A verdade é que o apego ao poder já passou de todos os limites.

Partindo do pressuposto de que, apesar de tudo, o Brasil ainda vale a pena, busco os mais cultos para referendar minha preocupação com o que ainda está por vir. O escritor e poeta moçambicano Mia Couto é um dos meus mestres nessa cultura futurológica. Segundo ele, o que espanta não é a loucura que vivemos, mas a mediocridade dessa loucura. “O que nos dói não é o futuro que não conhecemos, mas o presente que não reconhecemos”. Não admitir a vitória de Luiz Inácio nos remete a um passado triste e muito recente. Refiro-me ao negacionismo sobre a Covid-19, doença que o presidente da República em exercício tratou como brincadeirinha, fez pilhéria das ações contra a pandemia e zombou grosseiramente dos milhares de doentes.

A falta de governo e de sensibilidade com o vírus resultaram na contaminação de 34,9 milhões de brasileiros e de quase 690 mil mortes. Conforme sanitaristas, plantonistas de hospitais e especialistas em doenças contagiosas, o passado tende a novamente se fazer presente em nosso dia a dia. O resultado é que, associado à má gestão, a pouca adesão às doses de reforço das vacinas, as movimentações eleitorais e as aglomerações golpistas pós-eleição facilitaram o surgimento de uma nova subvariante, a BQ.1. A consequência é o aumento das internações e o risco de uma nova onda às vésperas das comemorações natalinas. Em outras palavras, tudo espirrando contra o belo futuro que sonhamos para os próximos anos.

Mais uma vez, o problema é a estupidez: o gado que não se vacinou transformou-se em potencial vetor dessa subvariante. Pior de tudo é a falta de recursos para compra de vacinas para crianças. De acordo com o médico sanitarista Gonzalo Vecina, sem imunização, mais de 1,4 mil crianças abaixo de cinco anos já morreram de Covid somente este ano. Parece absurdo, mas a verdade é cruel. A esperança no novo governo é nossa tábua de salvação, isto é, algo que salva em um momento muito aflitivo. Impossível mais aflição do que a que vivemos nesses últimos quatro anos, período em que o brasileiro comum, o que pensa, quase se afogou no mar revolto da incompreensão e do ódio.

Aparentemente, nos livramos do ovo da serpente, metáfora utilizada para exprimir a constatação de um mal em processo de gestação ou de incubação. Talvez por conta de sua língua afiada, o monstro não renasceu. Experimentou do próprio veneno. Quem manteve a esperança desde 2018 sabe que, a qualquer momento, coisas boas podem acontecer. É o impossível que se torna possível. E há de vir o que é bom, mesmo com o desnecessário e improdutivo escarcéu promovido pela massa da birra e que se imagina se servir sempre, ainda que no grito.

É o futuro que se avizinha. Ele está logo ali, na curva de dezembro para janeiro. Recorro novamente aos pensadores para responder sobre o que queremos para a nação. “Não dava para continuar assim. Às vezes, temos de arrancar as ervas do jardim para algo novo poder crescer. E, quem sabe, um dia florescer”. A vida é curta. Daí a necessidade de não se perder tempo com coisas passageiras, mas sim investir em coisa duradoura. A democracia é um bem que tem de ser eterno. Por isso, a esperança tem de ser a bússola dos que ainda sonham. A esperança é o vento bom, empurrando as velas do barco da paz.

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