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Mais valia

Esquerda confirma tese de que inimigos de hoje são aliados de amanhã

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Autor/Imagem:
Arimathéia Martins - Foto de Arquivo/Marcelo Camargo - ABr

Em qualquer segmento da vida, os inimigos honestos são mais dignos de confiança do que os amigos oportunistas. Esses são falsos heróis, enganam os inocentes, destroem a boa fé e normalmente aparecem quando vislumbram alguma vantagem. Na política, onde até a raiva é combinada, o inimigo de hoje é o aliado de amanhã. Às vezes, o amanhã é hoje mesmo. Adeptos da tese partidária de que mais vale um galo no terreiro do que dois na testa, os caciques do Centrão são mestres nessa cultura conceitual de mais valia.

Que o digam o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Arthur Lira (PP-AL). Ex-apoiador de Lula, parceiro de copa e cozinha de Jair Bolsonaro e conservador de primeira hora, o primeiro virou crítico ferrenho das “asneiras” da direita, embora vez por outra se manifeste a favor de Tarcísio de Freitas ou de Ratinho Junior. A forma e a eficiência como relatou e conduziu a votação da proposta que isenta do Imposto de Renda para quem ganha menos de R$ 5 mil falam sozinhas a respeito do segundo. Ainda que alguns possam discordar, duvido que a mudança de comportamento não esteja associada ao crescimento da esquerda e à provável vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026.

Jair Bolsonaro é carta fora do baralho, Eduardo Bolsonaro lembra um dólar furado, Valdemar Costa Neto fala como se fosse porteiro de casa de saliência, Silas Malafaia se engasgou com a Bíblia e tanto Ciro Nogueira quanto Arthur Lira já perceberam que, juntos, os deputados da bancada do Partido Liberal não dão um. Morubixaba do Centrão na Câmara, Lira não só conseguiu tudo que o governo queria, como obteve unanimidade dos deputados na aprovação da redução do IR para os pobres e no aumento para os ricos.

Nos bastidores da Casa, o buchicho é que o deputado alagoano foi recompensado em tempo recorde. No dia seguinte à definição do Imposto de Renda, Lula sancionou a lei que amplia o prazo para que parlamentares atinjam a idade mínima exigida para tomarem posse como deputados. Com tramitação meteórica na Câmara e no Senado, a nova legislação beneficiará, entre outros, o filho de Artur Lira. Pule de dez nas eleições presidenciais do ano que vem, Lula já começou a receber agrados de ex-adversários.

Em Alagoas, Arthur Lira deverá disputar uma das duas vagas para o Senado Federal. Renan Calheiros pai (MDB) é o nome forte para a outra vaga. Obviamente que ambos querem contar com o apoio do governo Lula e, principalmente, do eleitor do estado. Ciro Nogueira também terá de renovar o mandato de senador em um estado governado por um petista e com forte penetração da esquerda. Como quem o conhece não o compra, embora diga que Lula só olha para o retrovisor, há quem aposte que Ciro está usando lupa para não perder de vista o que vem pela frente.

Considerando que a federação União Brasil, de Ronaldo Caiado, com o partido de Nogueira não durou a passagem de uma nuvem, não aposto um mil réis na saída definitiva do PP do governo. O anúncio do desembarque deve ser para inglês ver e para agradar os ouvidos moucos dos extremistas. Enquanto não surgir um político sábio para provar o contrário, Lula é o cara a ser agradado em 2026. A recíproca é verdadeira. Ou seja, o caminho de quem ele agradar deverá ser menos caudaloso. Portanto, até lá, excetuando os que não são bem-vindos à caravana da esperança, se descolar de Luiz Inácio é correr risco desnecessariamente. Ciro Nogueira, Arthur Lira, Renan Calheiros e Caiado sabem que, em Alagoas, no Piauí e em Goiás, Tarcísio de Freitas, Ratinho Junior e afins são ilustres desconhecidos.

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