Enfermidade incurável
Estagnados na revolução, conservadores odeiam o termo reconstrução
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Temporariamente fora do ar, sem perspectivas de recuperação a curto prazo e com propostas antigas de poder, o arcaico conservadorismo brasileiro não se preparou para o natural envelhecimento. Achando que seriam eternos, não imaginaram que, apesar das ameaças, a população um dia experimentaria a evolução. Os ditos tradicionalistas estagnaram na Revolução, se perderam na involução e, por isso mesmo, não admitem ouvir o termo reconstrução, principalmente se o vocábulo fizer parte do bordão de um homem pelo qual os caducos nutrem todo tipo de ódio.
Pois é justamente o odiado que está bem próximo de uma nova volta para o futuro. Apegados ao que há de pior em uma sociedade progressista, os conservadores, após se apegarem ao fanatismo, unificam o discurso e passam a rotular os representantes do progresso, normalmente os da esquerda, de ladrões, corruptos e enganadores da Pátria. Não discordo. O que não acho justo é o roto esculhambar o esfarrapado como se fosse diferente. Mais injusto ainda é o fato deles se excluírem das adjetivações. Infelizmente, todos comem no mesmo cocho.
Em outras palavras, rapinagem por rapinagem, o que os reacionários escondem sob o manto puído da honestidade e da probidade não serve sequer para embrulhar os ovos podres que sobram dos podres poderes. Sinônimo de atraso, o reacionarismo nada mais é do que aderir a uma ordem moral duradoura que se torna obsoleta à medida que seus próprios defensores a ignoram, mas querem vê-la cumprida pelos outros. Sempre os outros e nunca eles. Que o diga o presidente mais festejado pelos embolorados, antiquados e histriônicos tupiniquins.
Eleito para supostamente consertar o que estava ruim, o republicano Donald Trump deve entregar os Estados Unidos ao povo norte-americano muito mais encrencado do que recebeu. Vislumbrado somente com o sujo e incandescente umbigo, o personalista, egocêntrico, narcisista e chato magnata, a pretexto de salvar a América, está, deliberadamente, levando os EUA e o mundo para o buraco. É a repetição do que ocorreu com o Brasil dos retrógrados e fanáticos “patriotas” sedentos pelo poder absoluto.
Tanto lá quanto aqui, os da chamada família tradicionalista reúnem democratas-cristãos, liberais, nacionalistas e fascistas, todos com a mesma preocupação: a do protecionismo insano contra o que denominam vírus do socialismo. O que não dizem é que, fora desse eixo que eles consideram do bem, só o mal que causam. Me perdoem os que aplaudem a insanidade de Donald Trump, entre eles aquele deputado fujão que se auto-exilou nos Estados Unidos, mas declarar guerra tarifária para atingir até mesmo parceiros econômicos é sinônimo de enfermidade incurável. Na melhor das hipóteses, trata-se de cérebro gangrenado.
É nesse barco furado que vem embarcando nossa ultrapassada direita, aquela que, enfeitiçada pelas botas de Tio Sam, não aspira mudar de ideia, tampouco de assunto. Para sorte do Brasil e do mundo, ninguém consegue enganar melhor os conservadores do que eles mesmos. Trump acredita que o tarifaço será suficiente para ampliar seus poderes e inspirar a direita global. Perderá o rebolado antes mesmo de o bolsonarismo sucumbir ao efeito Xandão. Sem medo de errar, igual a Trump, cujo governo começou com raiva e deve acabar em vergonha, os maiores representantes do conservadorismo brasileiro são Jair Bolsonaro e Silas Malafaia. Para ambos, vale repetir o que disse Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido: “A diferença entre os humanos e os animais é que os animais nunca permitem que um estúpido lidere a manada”.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos, políticos, econômicos e sociais