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Um templo no Sertão

Evangélicos do Nordeste também sonham com sua Casa de Salomão

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Autor/Imagem:
Acssa Maria - Texto e Foto

Na quentura do sertão nordestino, onde o chão racha em prece por chuva e o céu azul parece prometer redenção, os fiéis da Assembleia de Deus vivem dias de expectativa. Não é pela volta de Jesus, que sempre está próxima, mas pela possibilidade quase celestial de um templo nos moldes daquele erguido por Edir Macedo em São Paulo — o famoso Templo de Salomão.

Lá na capital paulista, o templo reluz com mármore importado, colunas imponentes, portas de quase ouro e uma aura de Jerusalém tropical. Aqui no Nordeste, porém, a realidade é outra: bancos de madeira gastos, ventiladores que rodam com mais fé que força, e microfones que às vezes chiavam mais do que pregavam. Ainda assim, o culto é fervoroso, e a palavra corre solta como rio em cheia.

Mas agora, diz o pastor Joelson, homem de voz grossa e bíblia gasta, “o tempo da promessa está chegando”. Segundo ele, há conversas, articulações, até mesmo uma planta arquitetônica sendo sonhada — uma sede monumental, erguer-se-ia no meio do agreste como testemunho de fé, prosperidade e presença divina. “Não será vaidade, será glória a Deus!”, diz ele, com os olhos brilhando mais que as lâmpadas de LED que ele já imagina piscando na futura fachada.

Na praça da cidade, entre uma tapioca e outra, os comentários se dividem. Dona Maria, que nunca perdeu um culto em 20 anos, já imagina o coral cantando com eco no templo novo. Seu Antônio, católico de nascença, balança a cabeça e comenta: “Deus mora em qualquer canto. Mas se eles querem uma casa grande, que seja.” Os jovens da congregação, acostumados a ver as igrejas neopentecostais na internet, suspiram com a ideia de um Instagram cheio de mármore e luz.

Mas entre a fé e o cimento, há o caminho da construção. Dinheiro ainda falta, embora as ofertas tenham aumentado. Os pastores fazem campanhas de jejum e oração, enquanto arquitetos buscam adaptar Jerusalém ao clima de Juazeiro ou de Mossoró. Porque, afinal, é preciso sonhar alto — como Salomão — mas também colocar estacas firmes no solo rachado do sertão.

Se virá ou não, só Deus sabe. Mas até lá, os evangélicos da Assembleia seguem firmes, entre um aleluia e outro, vivendo a expectativa de um templo que, quem sabe, os fará sentir ainda mais perto do céu — mesmo que com ar-condicionado e estacionamento coberto.

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