Extrema direita vê o clã Bolsonaro cada vez mais difícil de digerir

Está muito interessante assistir à família Bolsonaro sendo, digamos assim, fagocitada pela própria extrema direita que eles ajudaram a alimentar. É quase uma ironia histórica: o grupo que durante anos surfou na onda do ódio, da desinformação e do moralismo agora se vê devorado por essa mesma criatura que ajudou a criar. Com Jair preso, o velho capitão parece ter se tornado apenas um símbolo esvaziado, uma lembrança do caos recente, usada por uns e desprezada por outros.

Eduardo, por sua vez, está nos Estados Unidos, longe do pai e do calor da política brasileira. Iminentemente, sem mandato e sem perspectiva de retorno breve, ele parece um exilado de luxo, mas, ainda assim, um exilado, alguém que observa de longe a implosão do próprio clã.

Já Carlos Bolsonaro vive seu próprio dilema: forçado a deixar o Rio de Janeiro, seu tradicional reduto, precisa buscar refúgio político em Santa Catarina, onde tenta se reinventar enquanto provoca um racha na direita local. Mas até que ponto o mais aloprado dos Bolsonaros tem fôlego longe da base que o fez vereador?

E Flávio sabe que o tempo está correndo. Sua reeleição é praticamente uma questão de sobrevivência não apenas política, mas também judicial. Sem o mandato, as portas da imunidade se fecham, e as investigações voltam a assombrá-lo.

A sensação é que o império Bolsonaro está ruindo por dentro, corroído pela própria lógica que os levou ao topo: a da destruição constante. A extrema direita brasileira, sempre faminta por novos ídolos e novas guerras culturais, agora volta seus dentes contra os antigos líderes. E eu confesso: é fascinante ver o ciclo se completar, a fagocitose política em pleno andamento, o corpo engolindo o próprio criador.

Resta saber quem será o próximo a ser devorado.