Para minha amiga Paula
Falar em amor verdadeiro é diminuir os outros amores
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Dias atrás, eu estava conversando com uma amiga que ainda não tem filhos. Em meio àquelas conversas que começam leves e, de repente, ficam profundas, ela me perguntou se eu concordava com a afirmação de que a mulher só conhece o verdadeiro amor quando se torna mãe. A pergunta ficou ecoando em mim, talvez porque eu já tenha ouvido essa frase outras vezes, dita quase como uma verdade absoluta.
Não, eu não concordo com isso.
Acredito que é possível amar de muitas maneiras e todas elas podem ser profundas, sinceras e legítimas. Existe o amor de filha para mãe, que muitas vezes nos ensina cuidado e gratidão antes mesmo de sabermos nomear esses sentimentos. Existe o amor entre irmãs, que mistura cumplicidade, memória compartilhada e uma espécie de pacto silencioso para a vida inteira. Há o amor entre amigas, esse amor escolhido, construído no tempo, na escuta, na presença e no afeto que não exige laços de sangue para ser forte. É injusto dizer que esse tipo de amor não é o verdadeiro.
Há também o amor pelo companheiro, que é feito de parceria, desejo, respeito, conflito e construção diária. Um amor adulto, consciente, que escolhe ficar, que aprende a ceder e a crescer junto. Tudo isso é amor verdadeiro. Tudo isso é amor legítimo.
Quando um filho nasce, não é que os outros amores se tornem menores ou menos reais. O que acontece é que a mulher descobre um novo jeito de amar. Um amor diferente, intenso, transformador, que abre um território emocional até então desconhecido. A maternidade não invalida os amores anteriores; ela soma. Acrescenta camadas, amplia o repertório afetivo, ensina outras formas de cuidado e entrega.
Reduzir o amor verdadeiro apenas à experiência da maternidade é injusto com as mulheres e com suas histórias. Amar não é uma linha de chegada, é um caminho múltiplo. E cada amor vivido com verdade, seja ele qual for, já é, por si só, inteiro.