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Bobo dos bolsominions

Fato novo de Jefferson contra Lula vira tiro no pé de Bolsonaro

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

No fim desta semana, mais especificamente no domingo, dia 30, os brasileiros estarão escolhendo um novo presidente para a nossa sofrida e vilipendiada República. A tese recorrente é que a mudança deve ser de nome, norma, conduta e, sobretudo de valores. Vivemos uma época em que a desonestidade e a mentira se transformaram em qualidades. O cidadão correto, com princípios, ética e retidão ficou marginalizado diante de uma esmagadora maioria de aproveitadores, preconceituosos e enganadores. É a mais absoluta inversão de valores. Como dizem os sábios, no mundo onde prevalece essa inquietante ausência de princípios, os sãos acabam tachados de insanos. Resumindo a ópera, nesse mundo de valores invertidos, o importante é sempre descartado, enquanto o descartável normalmente é importante.

Assim é o eterno conflito entre a verdade e a mentira, hoje um exagerado modismo entre os que detêm o poder. Contada à exaustão, como tem sido feito desde janeiro de 2019, a mentira gera um fenômeno muito comum, principalmente neste período pré-eleitoral. Ela leva o povo a aceitar mais facilmente uma doença do que a acreditar na cura. E não importa o nível cultural ou o talento de quem a recebe. Estando na mídia e com o comando da máquina, o mentiroso, mesmo sendo um zero à direita, muda de roupagem, troca a pele e se transforma em um gigante, às vezes em um mito. Como raízes irremovíveis entre os políticos, o problema maior da mentira – hoje fake news – é quando ela toma o lugar das propostas nas campanhas eleitorais. Pior ainda é quando inexistem as propostas.

O famigerado episódio envolvendo o maquiavélico, mas boquirroto, ex-deputado Roberto Jefferson, parou o Brasil no domingo (23). Felizmente, na segunda (24) tudo veio à tona. Para os brasileiros com um pouquinho de esclarecimento ficou claro que a ideia era um novo fato novo. Deu errado. A estratégia de Roberto Jefferson e do entorno da campanha de Jair Bolsonaro parecia filme de terror ou peça de teatro produzida ao ar livre do cerrado ou do sertão. Obviamente que o contexto foi pré-estabelecido entre as partes. Deu errado porque esqueceram de combinar com os russos, denominados nesse folhetim tupiniquim de policiais federais fora do esquema bolsonarista. Difícil não acreditar que a intenção era alavancar a campanha do presidente candidato, oferecendo o ex-deputado como mártir artificial. Jefferson voltou à prisão e já avisou que não aceitará ser abandonado. Ou seja, o chumbo ainda não esquentou de vez.

Como os tiros e a granada saíram pela culatra, para os bolsominions, inclusive para o próprio mentor da turba, Jefferson virou bandido da pior espécie. E, a menos que cumpra a promessa de novamente abrir a boca, terá de arcar sozinho com a hedionda idiotice, quase uma bizarria. Como nos melhores filmes de bandido e mocinho, naturalmente o suposto herói tem de se safar de qualquer adjetivação que fira sua majestosa imagem e acabe lhe tirando preciosos votos. Não sei se o herói em questão conseguirá mudar o quadro apenas chamando Roberto Jefferson de bandido e o rebaixando a um ex-aliado que nunca foi e jamais será. Qualquer leigo sabe que dizer que Jefferson é ex-aliado de Bolsonaro é o mesmo que afirmar que Neymar é tão bom jogador de futebol como pagador de impostos. Os espanhóis que o digam. De qualquer maneira, é mais fácil usar a mentira para justificar o medo.

Sem controle, Jair Messias manteve a praxe e, em menos de uma semana, produziu duas gafes terrivelmente amadoras. A primeira foi protagonizada pelo aliadíssimo procurador-geral Augusto Aras, que pediu ao STF a suspensão de uma norma da Justiça Eleitoral que busca dar mais agilidade no combate às fake news em período eleitoral. Interessante é que o chefe do Ministério Público nunca se manifestou contra as fakes. A segunda, considerada uma cafajestada, foi a encenação de Roberto Jefferson, do ministro da Justiça e o consequente desgaste para a candidatura do mito. Além da participação desastrosa do ministro nesse episódio policial, pesou contra Bolsonaro ele ter mentido sobre não ter sido fotografado ao lado de Jefferson. Diversas fotos divulgadas pelo próprio governo desmentem o presidente. Definitivamente, o Brasil de hoje é uma loucura coletiva. Acho que, mesmo com todo seu poderio bélico, Roberto Jefferson contribuiu para sepultar qualquer possibilidade de golpe. Afinal, sua bravata não teve apoio popular e ainda obrigou Jair Bolsonaro a transformá-lo no inimigo da vez. Na verdade, um inimigo que poucos gostariam de ter.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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