João Pessoa
Filipeia, Frederica, Parahyba e seus 440 anos de fundação
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No dia 5 de agosto, João Pessoa, capital da Paraíba, completa 440 anos de fundação. Quarta cidade mais antiga do Brasil, ela não apenas resiste ao tempo — ela celebra o tempo. Sua história se revela em ruas de pedra, fachadas coloniais, igrejas barrocas e no sotaque arrastado e doce de seu povo. Mais que uma data, os 440 anos marcam uma afirmação da identidade cultural, histórica e urbana de uma das capitais mais encantadoras do Nordeste.
Fundada em 1585 com o nome de Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, a capital paraibana recebeu diferentes nomes ao longo dos séculos: Filipeia de Nossa Senhora das Neves (em homenagem ao rei Filipe II, durante a União Ibérica), Frederica (sob o domínio holandês), Parahyba (durante o Império) e finalmente João Pessoa, em 1930, após o assassinato do então presidente da Paraíba e candidato à vice-presidência da República, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.
“Cada nome guarda uma camada da nossa história — dos tempos coloniais à luta republicana. A cidade carrega a memória do Brasil em suas esquinas”, destaca a historiadora Denise Lins, da UFPB.
O Centro Histórico de João Pessoa, tombado pelo IPHAN, é um dos maiores e mais bem preservados do país. Entre as joias arquitetônicas estão o Conjunto São Francisco, o Mosteiro de São Bento, o Hotel Globo e o Antigo Paço Municipal, que será restaurado para virar um novo centro cultural até 2026.
Nos últimos anos, o centro tem vivido um renascimento: novos cafés, galerias, projetos de arte urbana e festivais culturais vêm ocupando os casarões coloniais com criatividade e respeito à memória.
As celebrações dos 440 anos reúnem uma programação vasta que inclui shows musicais, cortejos de maracatu, feiras de literatura, exibições de filmes paraibanos e apresentações de grupos indígenas e quilombolas. A festa não é apenas comemoração — é afirmação de pertencimento.
Grupos culturais como o Piollin, o Quinteto da Paraíba, a Orquestra Sinfônica da UFPB e as escolas de samba de Mandacaru também participam dos festejos. “João Pessoa tem um pé no passado, outro no palco, e a alma nas ruas”, resume o músico Chico Limeira.
João Pessoa é também conhecida por ser a cidade onde o sol nasce primeiro nas Américas, já que o Ponto Extremo Oriental, na Ponta do Seixas, é o mais oriental do continente. Esse marco geográfico virou símbolo do slogan turístico da cidade: “João Pessoa: onde o Brasil começa”.
Ali perto, a Estação Cabo Branco, projetada por Oscar Niemeyer, representa a fusão entre ciência, arte e paisagem natural — um exemplo de como o moderno pode dialogar com o histórico.
A Secretaria de Educação da cidade promove ações educativas nas escolas durante o mês de agosto, com aulas temáticas sobre os nomes históricos da cidade, encenações teatrais com personagens como João Pessoa, Frei Martinho e os índios potiguaras, e passeios culturais guiados por estudantes.
“É importante que nossas crianças saibam que moram em uma cidade antiga e rica de sentido. Elas precisam amar João Pessoa com consciência”, diz a professora Francisca Dantas, da rede municipal.
Em tempos de apagamento cultural e pressa urbana, João Pessoa dá um exemplo raro de equilíbrio: uma cidade que cresce com os pés na história, que moderniza sem demolir, que valoriza o que a faz única — sua ancestralidade, seu povo, sua memória.
Aos 440 anos, ela segue firme como capital da delicadeza, do sol, da cultura e da resistência. Um lugar onde cada esquina conta uma história, e cada história é um convite para ficar um pouco mais.