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Calças na mão

Flagrante de César (o vereador) resgata tese de César, o imperador

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Mathuzalém Júnior - Foto Antônio Cruz/ABr

A cena do vereador carioca César Maia (PSD) sentado em um vaso sanitário durante uma sessão remota na Câmara Municipal do Rio de Janeiro talvez não tenha sido por maldade. Também não foi apenas hilária. Pai do ex-presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, César Maia não é marinheiro de primeira viagem. Macaco velho na política local e nacional, ele tinha consciência de que poderia ser chamado a qualquer momento pelo presidente da sessão. Foi e a câmera flagrou o ex-prefeito carioca de três mandatos literalmente com as calças na mão.

Não é nada, não é nada, mas pode ser tudo o que o povo diz de ruim de “nossos representantes” nos variados espaços políticos do país. Sem margem de erro para cima ou para baixo, é a prova irrefutável de que, salvo uma minoria escondida, os homens públicos brasileiros estão verdadeiramente cagando para os eleitores brasileiros. Para os corporativistas, aqueles que matam e morrem para endeusar seus pares, a divulgação da titica do colega vereador mostrou a necessidade dos “abutres” e “canalhas” de plantão em explorar atos sem maldade alguma. Exagero da excelência defensora do cagaço do mal dado.

Nenhum jornalista ou colaborador de veículos de comunicação disse que a suposta ingênua obrada foi de caso pensado. Se fosse, seria o fim do que ainda resta de seriedade na esculhambada política nacional. Com ou sem vontade, o fato é que a repentina indisposição intestinal do vereador César Maia gerou na mente poluída e insana do povo o simbolismo de que ele cagou ao vivo na cabeça de seus eleitores. Ainda que possamos pensar que sentar é somente o que interessa, os parlamentares municipais, regionais ou nacionais precisam saber que, a exemplo da mulher de César, não basta que sejam sérios e honestos. É fundamental que também pareçam sérios e honestos.

Não há espaço para deslizes como o de César Maia. No entanto, para infelicidade geral da nação, é só o que temos. Levantamento recente de um site especializado no dia a dia do Congresso Nacional mostrou que 111 deputados federais são investigados ou têm alguma pendência na Justiça Criminal. Absurdo dos absurdos, o quantitativo corresponde a um quinto da Câmara, composta por 513 deputados. Conforme o site, a lista inclui pelo menos 16 dos 23 partidos com representantes na Casa.

Curiosamente (ou não), o PL de Valdemar Costa Neto, do ex-presidente Jair Bolsonaro e da maioria dos evangélicos, é a legenda com maior número absoluto de envolvidos. Entre os crimes investigados pelo sistema judiciário, a maior parte é relativa ao exercício da função pública, como corrupção ou peculato. Todavia, há querelas de “deslizes” contra a honra, preconceito e violência contra a mulher. As ações de improbidade administrativa, de responsabilidade da Justiça Cível, não estão relacionadas.

Obviamente que, até prova em contrário, todos os acusados são inocentes. É uma questão de escolha. Com certeza, ninguém em sã consciência mantém um suspeito de roubo ou de qualquer outro delito em sua casa ou empresa. No entanto, o eleitor (ou parte dele) parece não ver inconvenientes em eleger ou reeleger pessoas acusadas de irregularidades. Se insistem é porque, de alguma maneira, gostam de sofrer ou invejam a vida de nepotistas, corruptos e burladores da Justiça. Se insistem em insistir, não há razão para reclamar quando um ou muitos deles resolvem nos fazer de lacaios.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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