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Folha dá guinada para a direita e solta rabo que antes mantinha preso com leitor

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FC Leite Filho

Só pode dar tristeza ver a Folha de S. Paulo, entregar-se de corpo e alma ao aparato da direita mais obtusa. De formato leve e de fácil manuseio, o jornal paulista era tido como de esquerda, até há pouco, por alguns círculos intelectuais, inclusive da Europa. Alguns, mais entusiastas, chegavam a compará-lo ao que é hoje o Guardian, da Inglaterra, já que os franceses Le Monde e o Libération, de há muito venderam a alma ao diabo.

De uns tempos para cá, porém, o jornal paulista, cujo histórico de cumplicidade com a ditadura não pode ser esquecido, ainda que muitos o relevem, depois que se redimiu, a partir de 1984, ao engajar-se na luta pelas Diretas-Já, vem observando uma inflexão inexorável para a suas tristes origens.

Primeiro, encheu seus quadros editoriais do que há de mais abjeto e escatológico em matéria de jornalismo marrom, de que é exemplo a turma da Veja, revista da qual a Folha, tradicionalmente, sempre se manteve à distância. Depois incorporou o pessoal da sociologia da dependência e uns tucanos de alta plumagem, como FHC e Aécio Neves.

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Agora, a Folha enche o peito ao anunciar a contratação de Kim Kataguiri, o coordenador do movimento de extrema direita MBL, Movimento Brasil Livre, como um de seus colunistas. Não vou me deter aqui no exame da capacidade intelectual deste líder estudantil, de apenas 19 anos, certamente, formado nos laboratórios da CIA & Cia., como seus congêneres da Festa Mexicana, que promoveram as guarimbas, na Venezuela, em 2014.

Atenho-me à sinalização que a Folha dá, com essa aquisição exdrúxula, de que se engaja por completo no movimento pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, ainda que, oficialmente, tente salvar as aparências. Note-se que em 13 de dezembro último, o jornal dos Frias, afirmava, num editorial sobre Eduardo Cunha: “É imperativo abreviar essa farsa, para que o processo do impeachment, seja qual for seu desenlace, transcorra com a necessária limpidez”.

Finalmente, eu me pergunto, o que terá levado a Folha a esta guinada? Um cínico diria que a adesão do ex-venerando Le Monde, jornal fundado por uma cooperativa de jornalistas no auge França gaullista, ao capitalismo voraz deu-se por dificuldades financeiras. Estava falido e, para sobreviver, aceitou o guarda-chuva dos bancos. O mesmo se dirá do Libération, fundado por Jean Paul Sartre e considerado a vanguarda do pensamento de esquerda, na França e na Europa.

Mas este não é o caso da Folha, que, apesar de alguns percalços com credores e da invasão digital, desfruta de relativa saúde financeira. Seus atuais donos e editores, Otavinho Frias, o intelectual que teria feito a cabeça do velho patriarca Otávio Frias para desengajar-se da ditadura e aderir às Diretas-Já, assim seu irmão Luis Frias, ambos aliás com verniz da Sorbonne, já demonstraram sobeja capacidade de gestão comercial e e editorial.

Oxalá que algum motivo sombrio não os esteja impelindo à retomada de práticas antigas, quando a Folha, como constatou a Comissão Nacional da Verdade, apoiou o golpe de 64, não apenas no aspecto “financeiro e ideológico”, “mas também material”.

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