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Neonazistas frustrados

Forca sonhada para Xandão agora aperta o nó nos golpistas

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Mathuzalém Júnior* - Foto Marcelo Camargo/ABr

Caso a Alemanha de Adolf Hitler tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial, o mundo inteiro certamente ainda estaria sob o domínio nazista. Com apoio do italiano Benito Mussolini, campos de extermínio seriam construídos em todos os lugares dominados pelos aliados. Democracia e liberdade de expressão? Nunca! Com certeza, além das obras de arte, dos partidos políticos, da imprensa, das escolas de samba, da cultura, da educação, tudo que se movesse deveria amar o nazismo acima de todas as coisas. E se o golpe do Jair tivesse dado certo? A exemplo da Venezuela de Nicolás Maduro, provavelmente até o sol, a lua e o mar seriam obrigados a se cobrir com o Pavilhão Nacional e bater continência para o cabo e o soldado que fracassaram na derrubada do Supremo Tribunal Federal.

Pior seria imaginar a prisão e o enforcamento de Alexandre de Moraes. Antes de quase se converter em assassino, o povo neonazista fincou bandeiras encardidas e rasgadas nos automóveis, varandas, nos acampamentos “naziabundos”, nas igrejas evangélicas e até nos plenários do Congresso e do STF e na sala de despachos da Presidência da República. A estratégia não prosperou porque, embora se achasse Deus, o “führer” tupiniquim estava mais para aprendiz de diabinho sem rabo. Foi o tempo em que as provas do Enem eram recheadas de absurdos nos enunciados das perguntas e no frontispício dos estudantes sem noção, cujas respostas eram sinônimo do tempo vivido.

Por exemplo, diante de um pedido para definir a estrutura e a origem dos lisossomos (membranas repletas de enzimas), um aluno respondeu sem pestanejar: “Com dinheiro, ricos somos; sem dinheiro, lisossomos”. É por aí que chegaremos ao Primeiro Mundo. Não escondo de ninguém que sou crítico feroz da forma hitleriana do Jair. E não sou comunista, tampouco defensor do socialismo provinciano. Como tenho a obrigação de ser justo, destaco a personalidade racista, homofóbica, misógina e xenofóbica do próprio, assim como reconheço que no seu governo não havia eufemismos. O radicalismo era claro, sem meias palavras. Eram flores para o branco, a pistola para o negro e a forca para os que ousassem peitá-lo, como fez Xandão.

Simples assim. Sob nova direção, voltamos à fase do politicamente correto a qualquer custo, mas pelo menos conquistamos a democracia que o governo anterior havia escondido no cercadinho do Palácio da Alvorada. É exagero ouvir a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se insurgir contra o buraco negro e aceitar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, vociferar contra caixas pretas. Dependendo da situação, obviamente que também sou contrário a qualquer manifestação racista. Todavia, não consigo me imaginar pensando duas vezes antes de usar expressões diante de ocupantes de cargo do primeiro escalão do atual governo. Será que terei de alijar definitivamente do meu vocabulário palavras com quadro negro, meia preta, cocada preta, lápis preto, caneta preta e faixa preta?

Pode não ser o melhor dos mundos, mas não há termo de comparação com a negritude da alma dos que, a exemplo de Hitler, queriam transformar o Brasil em covil de paquidermes, parasitas e toupeiras fantasiadas de lobos e raposas do deserto. Pois bem, a três dias do primeiro aniversário do desventurado 8 de janeiro, é chegada a hora de Alexandre de Moraes mostrar aos golpistas que eles não têm mais espaço no país que tentaram incendiar. Dos 1.345 processos sob sua relatoria, Xandão já concluiu 30 e deve encerrar outras 29 ações no início de fevereiro.

A resistência do STF e das autoridades que se uniram contra os atentados democráticos precisa ser lembrada permanentemente. A democracia se consolidou de vez. Falta acabar com a impunidade, principalmente a daqueles que atentaram contra a República. Para esses, os chamados lambaris do levante, o máximo rigor da lei. Apesar de cristão, se pudesse sugeriria para os mentores e financiadores dos atos golpistas, os denominados tubarões, a mesma forca que eles pensaram há um ano para o ministro Xandão.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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