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Francisco, preso por erro da Justiça, abre um sorriso para voltar ao seu aconchego

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Layla Steffany

De volta para o aconchego da família e hora de sair às ruas com liberdade, sob o sol ou a chuva, com um belo sorriso, distribuindo elegância e urbanidade por onde passar. Poder questionar o que vê e, quem sabe, até arriscar e inovar novos passos, mas de forma honesta, espontânea e autêntica, como sempre foi.

É isso que o mineiro Francisco Magalhães de Souza, 35 anos, auxiliar de serviços gerais, começa a planejar. Ele quer voltar a ter uma vida normal, como qualquer outro cidadão que levanta cedo, paga as contas e trabalha para alcançar seus sonhos.

Esse sonho de Francisco, alimentado desde a infância e que sempre incluiu uma vida melhor para a família, virou pesadelo que só agora vai se desvanecendo. O problema começou em 2009, quando ele abordado por policiais enquanto caminhava em uma rua da pacata Paracatu, em Minas Gerais. Contra o surpreso faxineiro havia um mandado de prisão por homicídio ocorrido em Ceilândia, 10 anos antes.

A acusação foi um balde de água fria em seu projeto de vida. E a memória de Francisco viajou com a velocidade da luz. O suspeito era outro. Um primo, registrado com o mesmo nome. Os policiais rejeitaram a versão. E Francisco trocou a ensolarada Paracatu por uma cela sombria da Papuda.

Mesmo longe da família, sofrendo as injustiças da Justiça, Francisco não deixou que a mágoa e a raiva fossem as donas da situação. Hoje, livre, ele afirma que não tem raiva do parente, abrigado por sua mãe, ao ficar órfão ainda criança. “Ele é primo, mas para mim é igual a um irmão”, revela o homônimo que cumpriu uma pena de prisão por mais inocente que seja.

Francisco passou dois anos e quatro meses em cárcere, dividindo a cela com outras 14 pessoas. Um período de condições degradantes, mesmo alimentando boas amizades com os colegas de cela. E embora enfrentando todo esse problema, ele não perdia a esperança de ter sua liberdade de volta.

A sua maior angustia enquanto estava preso, era não ter contato com sua família. As cartas que ele escrevia nem se quer chegaram à sua mulher, e por diversas vezes ela saiu de Paracatu para vê-lo e nunca deu certo. Passava horas na fila e quando chegava sua vez o horário de visita já tinha encerrado.

Ele conta que “o sentimento de tristeza que sentia era grande, porque lembrava da sua mulher e da filha todos os dias; eu pensava a situação que elas estão vivendo. Eu era o principal mantenedor da casa”. Muitas vezes Francisco se perguntava se ainda se lembravam dele.

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Começar de novo – Após um ano, a defesa do faxineiro conseguiu relaxamento de prisão sob a alegação de que ele era um homônimo do verdadeiro criminoso. Depois acharam que tivessem liberado uma pessoa que tivesse duas identidades, uma delas falsa. Tudo de novo. Aí emitiram novo mandado de prisão, e Francisco voltou a ser preso.

O advogado Ivo Ribeiro, que assistiu o faxineiro, conta que “se tivessem feito essa comparação há mais tempo com impressões digitais, com certeza isso não teria acontecido. E tem outro detalhe: se o Francisco que foi preso indevidamente tivesse cometido o crime de 1989, ele na época seria menor de idade. Ele não responderia por homicídio, mas por ato infracional”.

No final da última semana, um juiz de Brasília concedeu alvará de soltura para Francisco depois de comprovar, por meio das impressões digitais, que a prisão foi um engano. O exame foi feito a pedido do Ministério Público. O advogado diz que vai recorrer e pedir indenização de R$ 3 milhões ao Estado por tudo que o cliente passou. A mulher dele não trabalha, e a família estava sobrevivendo todo esse tempo através das doações de pessoas da cidade.

Após passar dois anos e quatro meses por engano no lugar do primo homônimo, Francisco finalmente pôde conhecer uma pequena parte de Brasília para além da Papuda. Mas o seu maior desejo era voltar o mais rápido possível para a sua família.

Sem nenhum centavo no bolso, colocou os poucos objetos pessoais na mochila e partiu a pé. Por sorte conseguiu uma carona até a rodoviária interestadual com uma advogada que passava pelo local e que lhe deu R$ 50.

Já na rodoviária, à espera do ônibus que o levaria para casa, Francisco se permitiu um lanche especial: coxinha e Coca-Cola, o seu refrigerante preferido. O homem de coração humilde e cheio de esperança repete que não tem mágoa do período que viveu. A sua angustia é por não ter acompanhado o crescimento da filha por esse tempo.

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