Uniforme vexatório
Frentista é para encher o tanque, não os olhos dos motoristas
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A juíza Ana Isabel Guerra Barbosa Koury, da 10ª Vara do Trabalho do Recife, determinou que uma rede de postos de combustível forneça uniforme adequado para as funcionárias, por exemplo, calças de corte reto e camisas em comprimento padrão, sob pena de multa diária de R$ 500 por cada empregada que ainda estiver utilizando uniforme inadequado. Até então, as empregadas precisavam trabalhar de cropped (blusa curta) e legging (calça justa).
A decisão da juíza é um alívio, mas também um lembrete do quanto ainda precisamos lutar pelo óbvio. Uniforme adequado, decente, confortável. Calças de corte reto e camisas de comprimento padrão. Nada mais que o mínimo de respeito. E ainda assim é necessária uma decisão judicial, acompanhada de multa diária, para que esse mínimo seja cumprido.
O que mais me impressiona é que parte da sociedade ainda finge não ver o problema. Como se sexualizar mulheres em ambientes de trabalho fosse normal. Como se expor trabalhadoras ao assédio fosse aceitável. Como se o lucro justificasse qualquer violência, inclusive a simbólica.
Espero que essa decisão sirva de exemplo. Que outras mulheres se reconheçam nesse caso e se sintam encorajadas a denunciar situações semelhantes. Que empregadores aprendam, de uma vez por todas, que dignidade não é opcional. E que nós, como sociedade, nunca mais aceitemos que o corpo feminino seja usado como estratégia de marketing ou ferramenta de submissão.