Patriotismo reverso
Gasolina aumenta chama de Xandão contra golpe
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No português que utilizamos, reflexão significa o ato de pensar a respeito de alguma coisa. No português que deveríamos usar, reflexão é o ato de pensar profundamente sobre o próprio pensamento, sobre si mesmo. Como já disse o pensador Paulo Coelho, imaginemos uma nova história para nossa vida e acreditemos nela. Afinal, a vida é uma balança entre aceitar o que não podemos mudar e ter coragem para mudar o que podemos. Estamos na véspera do tarifaço vendido a Donald Trump pelo clã Bolsonaro, mas faz pelo menos seis anos que o Brasil está pegando fogo. Desnecessário dizer que jogar gasolina na fogueira atiça ainda mais as chamas que já estão acima da altura permitida pelo bom senso.
Deputados, senadores e demais comedores de sonhos de padaria produzidos pelos ignorantes da seita bolsonarista querem ver o circo ardendo em brasa. O conflito apelidado de polarização ou de caça à Xandão parece não ter fim. O mais grave é que muitos, independentemente do lado, só perceberão o rumo perigoso que o país está tomando quando não houver mais solução para a idiotizada contenda. Agrade ou não àqueles que insistem na tese de que o 8 de janeiro de 2023 foi apenas uma brincadeira de criança, o ministro Alexandre de Moraes nada fez de errado. Por isso, não sofrerá impeachment e, mesmo sem o visto norte-americano, não recuará da decisão de condenar os envolvidos no golpismo, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ou seja, mais uma ou mais três ou quatro manifestações públicas, mais meia dúzia de ameaças de Donald Trump ou duas dúzias de gritinhos histéricos de deputados sem lastro não mudarão o cenário. Desenhado com tintas grossas desde a posse de Luiz Inácio como presidente da República, o quadro foi repintado após a certeza de que o responsável pelo tarifaço imposto à nação e pelas sanções a Moraes tem nome, CPF e impressão digital registrados no Brasil. Deputado federal, Eduardo Bolsonaro, o 03, recebe dinheiro público para trabalhar contra seu país e acha tudo isso normal.
Repito que uma coisa é ser contra Lula da Silva. Outra coisa é ser a favor de Jair Bolsonaro e de sua família, responsáveis diretos pelo caos que estamos enfrentando. A reflexão sugerida não se limita aos aspectos políticos. Ela chama atenção, sobretudo, para nosso desenvolvimento cognitivo, mental e até intelectual. Em todos os países que sofreram ameaças de sobretaxas dos Estados Unidos, a esquerda e a direita se uniram em defesa da soberania nacional. Por aqui, a mediocridade de alguns, a estupidez de outros e o patriotismo reverso de muitos impedem que voltemos à normalidade. E qual é a nossa normalidade?
Ser contra Luiz Inácio e demonizar Jair Bolsonaro faz parte do jogo político. Inaceitável é, a pretexto de anistiar Bolsonaro pelos crimes claramente cometidos, o grupo do ódio fingir que apaga o fogaréu jogando óleo na fervura. Vale registrar que tudo começou com os defensores do caos tentando ganhar o que perderam. Para isso, forçaram um golpe que, por razões que a própria razão desconhece, os executores, os financiadores e os submissos e vassalos mentirosamente negam. Não há como negar. Mais do que o óbvio ululante, a trama é reconhecidamente o batom na cueca. O cérebro é uma “ferramenta” que o homem adquiriu para pensar. Então, pensemos.
Bom ou ruim, Lula da Silva ganhou a eleição. Ladrão ou não, ele tem o direito de disputar uma nova reeleição. Portanto, engulam o choro, recolham o ódio, abaixem as armas e busquem candidatos capazes de disputar as eleições de 2026 em condições de igualdade com o atual presidente, cujo grande cabo eleitoral atende por Eduardo Bolsonaro. Na força, ninguém levará nada. A prova é que o veneno do tarifaço de Trump virou antídoto contra os extremistas. Como Jair Bolsonaro é carta fora do baralho, em lugar de enxugar gelo, a direita menos servil e mais patriota deveria se unir em torno de um nome. Insistir com Bolsonaro, seus filhos e seus meninos de recado não é o caminho a ser seguido. Pensem nisso antes que o repúdio da população ultrapasse os limites da família do mal.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
