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Humanidade engasgada

Gaza, Teerã e os estranhos silêncios de Deus

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

De um lado, foguetes. Do outro, orações.

Em Teerã, os céus foram rasgados por aviões invisíveis. Em Tel Aviv, os alarmes soaram como sinos fúnebres. No meio disso, há uma criança de 7 anos e uma pergunta que não cala: “Onde está Deus?”

O conflito entre Israel e Irã não é só geopolítica: é memória. É a herança de sangue, as cicatrizes das guerras passadas que insistem em se repetir como um teatro de sombras que nunca fecha as cortinas. Como disse Walter Benjamin, “todo documento de cultura é, ao mesmo tempo, um documento de barbárie.”

O que chamam de “resposta estratégica” é, na verdade, um bombardeio noturno que arranca do colo de uma mãe aquilo que ela chamava de futuro.

O que chamam de “alvo militar” é um hospital em ruínas. O que chamam de “guerra justa” é uma série de equações morais que, no fim, sempre matam mais os pobres.

O filósofo francês Emmanuel Levinas afirmava que a ética nasce do rosto do outro. Mas que rosto vemos quando o outro se torna só um número na tela? Sete mortos. Catorze feridos. Cinquenta mil deslocados. As estatísticas são o idioma da indiferença.

Israel ataca. O Irã revida. A ONU se reúne. O mundo observa. E a paz continua sendo a grande mentira diplomática dos séculos.

O que está acontecendo agora entre Irã e Israel é mais do que guerra: é a morte da compaixão. A criança de 7 anos que pergunta onde está Deus talvez não receba resposta. Mas sua pergunta ecoa como um verso de um salmo rasgado.

Porque o que falta no Oriente Médio não é tecnologia. É humanidade.

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