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Marcha do Desencanto

Golpistas defenderão democracia com olho em Xandão e na PF

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Figura apagada do atual cenário político, o senador e ex-ministro bolsonarista Ciro Nogueira (PP-PI) reapareceu nesses dois últimos dias. Sabem onde? Ninguém sabe, mas usou a mídia para pedir pelo amor de Deus para que os “patriotas” não usem a Marcha do Desencanto, manifestação bolsonarista em defesa da democracia (?), contra quem quer que seja, principalmente contra o ministro Alexandre de Moraes. Ele e seu antigo chefe, o maior defensor da tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, têm consciência de que um deslize na Avenida Paulista obrigará Xandão a subir no trio elétrico e, lá de cima, gritar em ritmo de funk: Teje preso Jair. A ideia é controlar as hienas, os lacradores, golpistas e apoiadores óbvios do regime de exceção.

Querem enganar a quem? Talvez a eles mesmos que conhecem a dificuldade de controlar a massa ignara. Do outro lado, o do bem, brasileiro algum cai na esparrela de o ato é para desfazer o caos criado com o levante pensado para 8 de janeiro de 2023. A maioria do povo, inclusive alguns ex-“patriotas”, tem opinião formada a respeito e não engolem a desculpa de que o motim foi uma suposição. É claro que não. Ele só não se concretizou por inconvenientes gerados pela estultice e pelo amadorismo de seus mentores, Bolsonaro à frente. Sem expectativa alguma de um carguinho no governo de Luiz Inácio e com chances reduzidas de ser reeleito para o Senado, Nogueira, a exemplo de outros pares do Congresso, não tinha alternativa.

Ou ele aparecia como suposto democrata ou desaparecia na poeira dos políticos que só tratam de si. Perdeu a oportunidade de ficar calado. Como diz o ditado, quem fala demais dá bom dia a cavalo. Mais direto, eu diria que rastejar para ídolos sem coroa é sinônimo de acreditar no ressurgimento do caranguejal da borduna. Perdeu mais uma vez, porque, ainda que mantenha a esperança, não há hipótese de Xandão roer a corda ou da Polícia Federal dar novo crédito ao cisgênero Jair Bolsonaro. Nem o Deus dos captadores de moedas alheias será capaz de tal milagre. O senador brilhou temporariamente, rastejou a maior parte do tempo em que foi ministro e acabou punido pela mesa que virou sobre sua cabeça.

Agora, é cada um por si e Silas Malafaia, o senhor de todos os anéis, por todos aqueles que quiserem se refugiar na doutrina arrecadadora de sua Igreja do Santo Dízimo. Quanto aos fanáticos, tresloucados, intolerantes, neonazistas e distribuidores de peçonha, é bom que tomem cuidado enquanto há tempo. O plantão diário de Xandão e da turma da Federal quer dizer que, a qualquer momento, o jacaré que no seco anda pode mudar de rumo e, como o vento Minuano, pegá-los por trás. Ainda sobre Ciro Nogueira, o que causa espécie é a repentina mudança de comportamento. Apelidar a Marcha do Desencanto de reunião familiar é demais para os ouvidos de quem tem um mínimo de memória.

Depois de quatro anos de absoluto silêncio diante das loucuras golpistas do chefe e de seus seguidores, também soou como desespero de causa o apelo público para que os simpatizantes do Jair não usem a procissão de hoje para atacar, verbal ou virtualmente, autoridades e instituições antipáticas à tese antidemocrática. Para que não haja dúvida, o entendimento dos verdadeiros defensores do Estado Democrático de Direito é simples e objetivo: quem tem fiofó tem medo. Afinal, todos temos o tal do fiofó. A patriotada foi corajosa quando achava que podia tudo, inclusive implantar a ditadura com auxílio de um cabo e de um soldado. Felizmente, nem alguns generais e comandantes de canhões fumacentos puderam contribuir com o golpe desenhado como um catavento desde primeiro de janeiro de 2019.

Dançaram fora do tom, perderam o rebolado e deixaram o falso profeta cair de gaiato do navio. Resta aos companheiros de infortúnio, entre eles o senador piauiense, a certeza de que a maioria dos brasileiros deixou de ser incauta e crédula em relação às deslavadas mentiras contadas nas redes sociais ou nos programas de televisão de assumidos baba ovos, todos muito bem pagos para transformar um dos maiores fãs do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra em patriota e democrata. O tiro saiu das quatro linhas, pipocou, mas os estilhaços acabaram atingindo o traseiro dos falsos profetas, dos democratas de ocasião e dos milhares de “patriotas” que hoje morrem de medo de ter o mesmo fim do capitão: a masmorra. Como nos tempos da pandemia, já estão confundindo sirenes de ambulância com o carro de pegar bolsonaristas.

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