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Mito enceradeira

Governo Bolsonaro sai do lustre e segura na brocha

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto de Arquivo

Dia desses escrevi que o governo está pendurado no lustre. Errei na metáfora. Melhor seria ter dito que o governante está com a brocha na mão. E não faço aqui nem uma alusão à recente compra dos comprimidos azulzinhos, tampouco das próteses penianas. Falo da inércia, da inoperância e da incapacidade de cumprir o papel para o qual foi eleito. Aí, lamento repetir, mas se não consegue sair do lugar o que o faz achar que faria diferente se fosse reeleito? Lembra aquela história do jogador enceradeira, aquele que gira, gira, gira e não avança um milímetro com a bola. O sujeito se limita a fazer buracos no campo. Por analogia, buracos é o que temos de sobra no Brasil de hoje. O resto é só fartura.

Fato gerador da escalada da inflação e da falta de dinheiro para o povo, a economia em frangalhos parece não incomodar o todo poderoso da Esplanada. Pelo contrário. De acordo com suas respostas diplomáticas e acadêmicas, o desgaste político é mero detalhe. Ele está convicto de que, perdendo no voto, ganhará na força. “Até aí, morreu o Neves”, cujo significado é que isso já é sabido e não acrescenta nada de importante, porque, além de oportunista e impatriótica, essa tentativa é apenas mais um dos estridentes discursos feitos por sua excelência para audição dos apoiadores embevecidos por sua retórica suburbana.

Pois bem, presidente, somente para registro, seis em cada dez eleitores dizem nunca confiar em suas falas. Isso não é um probleminha simples. É um problemaço para quem sonha com o poder perpétuo. Então, para simplificar o colóquio, vá lá e governe. Resolva os problemas econômicos e sociais do Brasil e tente a reeleição com argumentos mais palatáveis do que qualquer ameaça. Diante de tanta dificuldade, o povo quer um pouco de paz. E não consegue porque as ameaças se renovam e, por enquanto, trabalho que é bom, neca de pitibiriba.

Entendo que as pessoas que o cercam têm medo ou poucas chances de argumentar contra seus posicionamentos radicalíssimos. Como não sou governista, mas estou apanhando como cidadão, me dou o direito de informá-lo que alguma coisa está errada nessa sua conta eleitoral. Com ajuda de políticos loucos pelo din din, o governo liberou caminhões de dinheiro para supostamente aliviar o bolso dos brasileiros. O pacote de bondades foi aberto e aprovado sem ressalvas e sem qualquer preocupação futura. Tentar recuperar a popularidade era o único e anunciado objetivo.

As medidas incluíram reajuste para o Auxílio Brasil, redução de 25% no Imposto sobre Produtos Industrializados, auxílio gás, microcrédito, socorro a empresários, saque extra de até R$ 1 mil do FGTS e antecipação do 13º.de aposentados e pensionistas do INSS. Fizeram tudo que podiam, mas a finalidade não foi alcançada: o quadro eleitoral não atingiu as casas decimais desejadas. Aquele outro candidato continua léguas à frente, principalmente entre o eleitorado mais pobre. Alguma coisa emperrou no meio do caminho.

Tudo indica que sua excelência está redondamente enganado quando se imagina o rei das cocadas branca ou preta. Se ele acha que abafa atacando instituições e xingando Deus e o mundo, basta pedir a um de seus assessores mais resilientes para lhe mostrar uma recente pesquisa de opinião. De acordo com os dados, 39% dos eleitores consultados afirmam que os constantes ataques de Jair Messias refletirão muito no resultado das eleições, enquanto 21% entendem que refletirão um pouco. Ou seja, 60% estão certos de que o quadro não é tão favorável como pensam os apoiadores mais fanáticos. Sem margem de erros, vale dizer que realmente o peixe morre é pela boca.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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