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À flor da pele

Gravidez faz amor de Catarina virar bumerangue

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção de Irene Araújo

Rosa e Vanderlei, assim que terminaram a sobremesa, resolveram prolongar o momento com um café. Era um dia especial para os dois, que comemoravam nove anos de casados. A mulher, passando os dedos na joia que lhe adornava o pescoço, imaginou ter tirado a sorte grande. Não que o marido fosse o melhor dos homens, mas, segundo sua avalição, até que o Vanderlei não era dos piores.

– Sabe quem me ligou anteontem?

– Quem?

– A Catarina.

O esposo fez cara de quem não se lembrava dessa tal Catarina. Talvez nem a conhecesse, mas isso não impediu que Rosa lhe refrescasse a memória, mesmo que não existisse qualquer coisa para ser lembrada. Não querendo contrariar a esposa justamente naquele dia, Vanderlei lançou-lhe um olhar de interesse. Foi o bastante para que a mulher começasse a falar. Dona de uma memória praticamente infalível, Rosa contou que havia trabalhado por quase dois anos com Catarina numa cafeteria.

– Nessa época, a Catarina estava tentando passar no vestibular. Ela queria fazer administração, pois tinha vontade de abrir seu próprio negócio. Eu estava bem no início do curso de enfermagem. Éramos jovens e sonhadoras.

– E o que ela queria com você?

– Anteontem?

– Sim.

– Queria marcar um encontro, pois precisava me contar algo. Mas creio que já sei o que é.

A partir desse ponto, Rosa disse que havia um funcionário da cafeteria. Seu nome? André. Pois é, esse rapaz, que regulava em idade com as duas, não mais de 20, 22 anos, começou a se interessar pela Catarina.

– O André a chamou para sair, mas ela não estava muito interessada. Mesmo assim, saiu.

– Por quê?

– Por que o quê?

– Por que ela saiu, apesar de não estar interessada?

– A Catarina não estava com ninguém, então, aceitou.

Depois do primeiro encontro, logo veio o segundo. Não que Catarina estivesse apaixonada, mas foi deixando a situação prosseguir. Ademais, não havia conhecido muitos homens nessa época e, parece, André seria praticamente igual aos demais, ou seja, um completo idiota. A amiga de Rosa talvez pensasse que todos os homens fossem daquele jeito. Não que estivesse por inteiro errada. Seja como for, os dois começaram a se relacionar de forma mais frequente. Ele dizia que a estava namorando. Ela apenas assentia com a cabeça.

O casal já iria completar seis meses de namoro, quando, então, Catarina chegou aflita ao trabalho. Ela foi até Rosa e lhe disse que precisava falar algo urgentemente. O que seria? Teria passado no vestibular? Não, isso não era possível, pois era início de abril.

– A Catarina estava com os nervos à flor da pele.

– Por quê?

– Por causa do André.

– O que ele fez com ela?

– Nada. Simplesmente ela não o amava. Aliás, não tinha a menor condição dos dois continuarem juntos.

– E o que ela fez?

– Ué, se separou. Não saiu mais com ele. Mas depois de uns 20 dias reataram.

– Ele pediu pra voltar?

– Não. Foi ela.

– Como assim?

– Duas semanas depois que deu um passa-fora no André, ela descobriu que estava grávida.

Catarina não possuía família. Aliás, havia uma irmã, mas não se falavam há anos. Os pais moravam na região rural de Formosa. Ela não queria voltar para lá. No entanto, também não tinha condições de sustentar uma criança. Já passava aperto apenas com as próprias despesas.

André, apaixonado pela namorada e, agora, feliz pela ideia de ser pai, fez o pedido de casamento numa sexta-feira no final do expediente. Houve uma pequena comemoração com os funcionários, ao total seis, parabenizando os noivos.

– Até hoje me lembro do olhar desesperançoso da Catarina. Mas foi o caminho que ela escolheu naquela época.

Rosa lembrou que o casório aconteceu três meses após, quando a barriga ainda não estava tão pronunciada. O casal foi morar nos fundos da casa dos pais de André. Ele até pediu para que a esposa largasse o emprego, mas a situação financeira não era das melhores. Catarina trabalhou até meados de dezembro, quando nasceu Joaquim.

– Então, as coisas se ajeitaram, né?

– Por um tempo, pois a Catarina adorou ser mãe. Era um chamego só com o filho.

Quando Joaquim estava para completar dois anos, Catarina, que nessa época havia saído da cafeteria e arrumado um emprego em um consultório de dentista, telefonou para Rosa. A voz embargada, precisava conversar com a amiga urgentemente.

– O que ela queria?

– Marcamos um encontro naquele mesmo dia. Foi na hora do almoço, perto do trabalho dela.

– Tá. Mas o que ela queria?

– Ela estava com os nervos à flor da pele. Não suportava mais olhar na cara do André. Nem do cheiro. Ela odiava o perfume que ele usava.

– Ela se separou?

– Sim. Ela saiu de casa com o filho. Mas acabou voltando com o André.

– Ele foi atrás dela?

– Não. Ela que foi.

– Como assim? Ela se arrependeu?

– Ela descobriu que estava grávida novamente.

– Caramba! Que azar!

Vanderlei continuava olhando com curiosidade para a esposa. Ele aguardou por um momento, mas nenhuma palavra da mulher. Rosa observou por um instante aquele homem que ela havia escolhido para ser seu. Tomou o último gole do café, que já havia esfriado.

– Vanderlei, meu amor, pague a conta. Estou exausta.

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