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Viva o Paizão Mourão

Grupo ideológico de Jair Bolsonaro morre pela boca

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior*

Antes de começar a escrever, sempre imagino eventuais leitores achando que virei assessor de imprensa da esquerda ou de quem não se sente representado pelo governo Bolsonaro. Digo isso porque diariamente me sinto acusado de escrever mais do mesmo. E é verdade, mas, sinceramente, não me acho culpado pela falta de assuntos ou argumentos lógicos do presidente da República, de seus ministros, assessores ou apoiadores. Pelo contrário. Eles criam situações embaraçosas que garantem mote para qualquer um que, como eu, se acha articulista. Difícil acreditar que, num país de dimensões continentais, não haja o que fazer. Se falta quem faça é chegada a hora de buscarmos no mercado político lideranças que parem de mentir e que saibam distinguir com clareza o que são ações transformadoras e o que é apenas prazer de querer ser dono do mundo.

Impressiona a qualquer leigo a capacidade de produção de fatos negativos dos integrantes do feudo presidencial, quase todos ligados ao “mago” do conservadorismo e autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, um dos primeiros patriotas do bolsonarismo a fixar residência em Richmond, nos Estados Unidos. O lado bom é que a maioria é muito ruim como produtor e/ou divulgador de fakes negativistas. Ainda que o façam de forma deliberada, ou seja, supostamente sem ordens superiores, geram fatos nocivos para o líder com a rapidez de um raio. O Gabinete do Ódio até deve ter “boas intenções” em relação ao chefe, mas naturalmente agem com a sutileza de um elefante montado em um hipopótamo. Por isso, via de regra, infantilmente os predadores viram presas, como se fossem crianças rebeldes pegas em flagrante. Em resumo, os fatos gerados voltam à origem com a violência de um vendaval.

Nos últimos meses, quase todos os tiros do arbítrio saíram pela culatra. Aparentemente um traque, o último deles acabou se transformando em uma bomba de várias ogivas para a Presidência da República, Ministério das Relações Exteriores e arredores. A recente conduta obscena e racista do assessor ideológico Filipe Martins durante uma sessão no Senado Federal não custará apenas sua cabeça. Certamente também levará para o limbo o chanceler Ernesto Araújo, principal discípulo do olavismo. Além disso, derramou um tonel de gasolina na fogueira onde arde vivo o capitão Jair Bolsonaro, consequentemente o grupo instalado no que ainda não passou de arremedo de governo. Juntando o polegar ao indicador, Martins manteve os três outros dedos esticados simbolizando a letra “w”, uma referência à palavra em inglês “white” (branco).

Felizmente, os movimentos repetitivos do assessor não eram fake, pois foram filmados e viralizaram no país e no mundo. Fontes palacianas afirmam que Filipe é considerado expoente da ala ideológica e um dos arquitetos da política externa do presidente. Se for, está aí a razão do esfacelamento do país junto à comunidade internacional. Faltaram argumentos e sobraram soberba e achincalhes a nações fundamentais à nossa economia, entre a China, produtora dos insumos necessários para fabricação da CoronaVac, por enquanto o principal imunizante à disposição dos milhões de brasileiros. Chegamos a esse nível de insensatez simultaneamente à consolidação mundial no número de mortes pela Covid-19, hoje superior a 302 mil.

Difíceis até para Freud explicar, as razões de tamanho descaso ultrapassam qualquer limite. Como denominar patriotas pessoas que contribuem concretamente com ações que denigrem o país e que rapidamente o transformaram de exemplo em campanhas sanitárias no epicentro mundial da pandemia. Não é apenas um título jocoso e divulgado por grupos de invejosos ou de loucos pela posse de nossas riquezas naturais. É uma constatação da Organização Mundial de Saúde (OMS), com base em fatos e números infelizmente mais reais do que a fantasiosa viagem política em que parcela da sociedade e o presidente da República imaginam estar metidos. Pior do que esquecer mazelas é não reagir à notoriedade mundial conquistada pelo que o governo deixou de fazer e, principalmente, pelo que não faz.

O país tropical, da morena cheia de graça, da Garota de Ipanema e do futebol exportação acabou. Hoje, pacientes morrem nas portas de hospitais e corpos são espalhados pelo chão. Tudo por causa da falta de planejamento, do descaso e da inércia do Executivo federal com a pandemia que está entre nós faz mais de um ano. Pressionado por todos que optam pela vida, somente agora, após perceber que a “gripezinha” mata, o presidente decidiu criar um comitê anticovid. Ou seja, nada é feito com a rapidez que a doença e o povo que sofre exigem. Provavelmente ungido por mãos superiores, o vice Hamilton Mourão saiu da clausura e ontem (25) disse com todas as letras que o número de mortos por Covid-19 ultrapassou o limite do bom senso. No mesmo tom crítico, também defendeu os governadores como únicos responsáveis pela adoção de medidas de restrição. Quem sabe não é ele o deus a que Bolsonaro se referiu como o único capaz de tirá-lo do poder. Tomara! Viva Pai Mourão!

*Mathuzalém Junior é jornalista profissional desde 1978

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